As armas pesadas são usadas para lançar projéteis contendo iodeto de prata nas nuvens. O iodeto de prata serve para concentrar umidade e provocar chuva. O processo é conhecido como semeação da nuvem e a China tem investido pesado nessa atividade, usando mais de 12 mil canhões antiaeronaves e lançadores de foguetes, além de aproximadamente 30 aviões. O governo chinês acredita que lançar bombas com cápsulas de iodeto de prata nas nuvens pode conter a precipitação
pluviométrica e a poluição, assegurando um céu claro para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008 em PequimA pesquisa chinesa sobre o controle do tempo começou em 1958, quando a prática estava ainda nos estágios iniciais. Com uma população de mais de 1,3 bilhão, a China necessita de grandes quantidades de água. Cidades como Pequim sofrem com uma névoa terrível e a chuva pode ajudar a limpar a poluição do ar. O governo está usando a semeação de nuvens para tentar produzir chuva para os agricultores, afastar a seca e encher os reservatórios de água.
Então, como isso funciona? Mesmo em áreas com umidade muito baixa, a água está presente no céu e nas nuvens. A pancada de chuva acontece depois que a umidade vai se juntando em volta de partículas no ar, levando a um nível de saturação no qual não consegue mais segurar essa umidade. A semeação de nuvens ajuda essencialmente nesse processo, fornecendo "núcleos" em volta dos quais a água se condensa. Esses núcleos podem ser sais, cloreto de cálcio, gelo seco ou iodeto de prata, usados pelos chineses. O iodeto de prata é usado porque seu formato é similar a cristais de gelo. O cloreto de cálcio é muito usado em áreas quentes ou tropicais.
A semeação de nuvens é grandemente usada no norte da China, uma área que não recebe muita chuva - seus níveis de precipitações estão 35% abaixo da média mundial e alguns de seus suprimentos de água estão muito poluídos. Zhiang Qiang, que administra o Departamento de Modificação do Tempo de Pequim, disse ao Asia Times que os níveis de água nos reservatórios de Pequim aumentaram 13% em razão da semeação de nuvens.
O Departamento de Modificação do Tempo de Pequim está pesquisando como evitar a chuva na cidade no dia 8 de agosto de 2008, durante as cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos. O governo garantiu céu aberto durante o evento. Eles planejam fazer isso rastreando as formações de nuvens e provocando chuva nos dias que antecedem as cerimônias. Uma autoridade, no entanto, admite que apesar de a semeação de nuvens ser eficaz para evitar chuva fraca no dia 8 de agosto, ela não conseguirá evitar o início de um temporal moderado à tempestade pesada.
Os cientistas não têm certeza se a semeação de nuvens realmente funciona, mas, apesar do ceticismo, a China está avançando, gastando de US$ 60 milhões a US$ 90 milhões por ano em modificação do tempo, além dos US$ 266 milhões gastos de 1995 a 2003 . O governo planeja produzir 50 bilhões de metros cúbicos de chuva por ano por meio desse recurso A China tem a reputação de lançar projetos ambiciosos desde a Grande Muralha, em tempos passados, até a Ferrovia Trans-Siberiana, a mais longa ferrovia do mundo. Mas o investimento para a semeação de nuvens vale a pena? O governo pode realmente fazer chover sempre que existir necessidade?
Métodos de semeação de nuvens e críticas
Existem três métodos de semeação de nuvens: estática, dinâmica e higroscópica. A semeação de nuvens estática implica espalhar químicos como o iodeto de prata nas nuvens. O iodeto de prata forma um cristal ao redor do qual a umidade pode se condensar. A umidade já está presente nas nuvens e a função essencial do iodeto de prata é tornar as nuvens de chuva mais propícias para descarregar sua água armazenada.
A semeação de nuvens dinâmica tem como objetivo reforçar as correntes de ar verticais, que estimulam a passagem de mais água através das nuvens, resultando em mais chuva [Fonte: Departamento de Ciência Acadêmica Universidade Estadual do Colorado - em inglês]. Até 100 vezes mais cristais de gelo são usados na semeação de nuvens dinâmica. O processo é considerado mais complexo do que a semeação de nuvens estática porque depende de uma seqüência de eventos que deve funcionar adequadamente. O dr. William R. Cotton, professor de ciência atmosférica na Universidade Estadual de Colorado, desmembra a semeação de nuvens dinâmica em 11 estágios separados. Um resultado inesperado em um dos estágios pode arruinar todo o processo, tornando a técnica menos confiável do que a semeação de nuvens estática.A semeação de nuvens higroscópica propaga sais através de chamas ou explosivos nas partes inferiores das nuvens. Os sais crescem em tamanho à medida que a água se junta a eles. Em seu site, o dr. Cotton declara que a semeação de nuvens higroscópica é bastante promissora, mas requer pesquisas adicionais.
O governo do Estado Andhra Pradesh, na Índia, usou esses aviões para tentar evitar a seca no verão de 2004.Os Estados Unidos começaram as pesquisas para controlar o tempo em 1946. Alguns estados norte-americanos utilizam programas de semeação de nuvens nos quais tentam aumentar os níveis de chuva e neve ou evitar o granizo, que pode danificar as colheitas. Uma experiência de oito anos no Texas e em Oklahoma, realizada por mais de 13.000 quilômetros quadrados, mostrou que a semeação de nuvens aumentou a precipitação, a altura das nuvens, a extensão dos temporais e a área na qual a chuva caiu [Fonte: The Edwards Aquifer Website - em inglês]. Mesmo assim, a semeação de nuvens nos EUA diminuiu desde a década de 70, quando a verba federal era de aproximadamente US$ 19 milhões por ano [Fonte: Departamento de Ciência Acadêmica, Universidade Estadual do Colorado - em inglês].
Pesquisas sobre semeação de nuvens foram realizadas na Rússia, Israel, Tailândia, Caribe e África do Sul. Além disso, os cientistas australianos realizaram inúmeras experiências, descobrindo que a semeação estática não era eficaz sobre as planícies da Austrália, mas pareciam ser bastante eficazes sobre a Tasmânia.
Apesar de alguns testes serem bem-sucedidos, a semeação de nuvens ainda apresenta muitos problemas. A preocupação fundamental é: isso funciona? A semeação pode ser um problema do tipo "quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?". Teria chovido em uma determinada área sem o uso da semeação de nuvens e teria chovido menos? A semeação de nuvens também é muito dependente das condições ambientais como temperatura e composição da nuvem.
Em 2003, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos declarou que 30 anos de estudos não produziram evidências "convincentes" de que a modificação do tempo funciona [Fonte: Things Asian - em inglês]. Por outro lado, a Sociedade Meteorológica Americana afirma que alguns estudos sobre semeação de nuvens mostram um aumento de 10% no volume da chuva Fonte:The Edwards Aquifer Website
A semeação de nuvens é bastante dispendiosa, apesar de ser potencialmente mais barata do que outros projetos, como desviar rios, construir novos canais ou melhorar sistemas de irrigação. Não obstante, a sedução da semeação de nuvens pode redirecionar a atenção e os investimentos de outros projetos que poderiam ser mais promissores. Portanto, questiona-se sobre alteração do tempo. Existem algumas áreas que retiram a umidade do ar que deveria ter caído como chuva em outra região?
Apesar de as empresas de semeação de nuvens garantirem que não existe nenhum perigo, permanecem as preocupações sobre a exposição à toxicidade do iodeto de prata e da contaminação do solo. Outras questões de segurança são mais transparentes. Na China, munições instáveis danificaram propriedades e até mataram uma pessoa em maio de 2006. O governo chinês afirma que melhorou o treinamento, licenças e exercícios de segurança.
No final, a semeação de nuvens tem fortes defensores, mas permanece controversa. Apesar de o exercício ter perdido seu ímpeto nos EUA, a China está contando com sua legião de agricultores que viraram deuses do tempo para limpar os céus para a realização das cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008.
Fonte: Asia Times Online
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