28 maio 2008

BANGLADESH APÓS CICLONES, TUFÕES E ENCHENTES- UM TOUR COM ERIC CAMARA (BBC BRASIL)




10 de novembro, 2007 - Uma viagem pelo grande manguezal



Durante sete dias, o repórter Eric Camara percorreu de barco trechos da maior floresta de manguezal do mundo, a Sunderbans (floresta bonita, em tradução livre do bengalês), que fica em Bangladesh.
A região, que tem sido afetada por enchentes cada vez mais intensas, está seriamente ameaçada de ser palco de um enorme desastre ecológico.
Se confirmadas as previsões de ambientalistas, até 25% da área costeira de Bangladesh poderá simplesmente sumir do mapa, inundada em conseqüência da elevação do nível dos oceanos.
Por trás do fenômeno, o efeito estufa, a elevação da temperatura do planeta provocada pela atividade humana, causador do degelo das calotas polares.
Eric vai acompanhar as dificuldades enfrentadas pelas populações ribeirinhas que poderão perder as terras das quais dependem para a produção dos alimentos que consomem.
Estima-se que trinta milhões de pessoas poderão ser forçadas a deixar suas casas se transformando em refugiados ambientais, com impacto direto na densidade populacional de Bangladesh que já é a maior do mundo.
11/Nov - Despedida
Foram sete dias de barco pelos rios de Bangladesh, de muito trabalho e calor. Conheci um país que para nós brasileiros está praticamente fora do mapa - mas que tem muitos problemas em comum com o Brasil.
Pobreza, natureza exuberante, povo simpático e trabalhador e, infelizmente, o perigo iminente causado pelo aquecimento global. Descobri que os golfinhos de água-doce daqui correm perigo como os daí e podem ser extintos pela combinação de mudanças climáticas e pressão humana.
Conheci o maior manguezal do mundo, que pode sumir do mapa e, sinceramente, espero que essa viagem não vire uma repetição da experiência das Sete Quedas de Iguaçu, hoje cobertas pelo lago de Itaipu. Guardadas as devidas proporções, é sempre doloroso para mim ver tesouros da natureza sumirem por causa da ação humana.
O lado mais cruel de tudo que vi e relatei neste blog e em reportagens para a BBC Brasil, no entanto, é a ameaça à população: fome, secas, mais e mais desastrosos ciclones e tufões, inundações e deslocamento de milhões de pessoas. Sem saberem o risco que correm, a maioria dos bengaleses que conheci lutam pela sobrevivência no difícil dia-a-dia.
Como me disse o cientista Atiq Rahman, integrante do IPCC (o Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas), o que se espera agora é que os países ricos que são os maiores causadores das mudanças climáticas assumam as suas responsabilidades - como ficou ratificado na Rio 92, que previa responsabilidades comuns mas diferentes entre os países de todo o mundo - e comecem a agir mais rapidamente.

Sustentabilidade

Dois exemplos que os ribeirinhos de Bangladesh podem exportar para o mundo quando o assunto é desenvolvimento sustentável: a pesca com lontras e o uso de energia solar.
O último é uma iniciativa da empresa Grameen Shakti, que oferece financiamentos "de pai para filho" para interessados em comprar painéis solares. Vi alguns nos povoados que visitamos e conversei com os seus orgulhosos donos.

Um deles, Muhammad Dulal Shekh, dono de um pequeno armazém, investiu 22 mil takas (menos de R$ 700) em um painel solar capaz de alimentar quatro lâmpadas elétricas, um televisor e carregadores de celular.

Ele agora vai pagar parcelas de 627 takas por mês por três anos, mas diz que a economia em querosene já compensa o investimento.

O segundo exemplo que vi aqui em Bangladesh foram os pescadores ribeirinhos que usam lontras especialmente treinadas para encurralar apenas peixes adultos para dentro das redes dos pescadores.
Dessa forma, os ribeirinhos não só facilitam a própria pesca como garantem futuros estoques de pesca.

10/Nov - Ciência para todos
Rubayat Mansur, ou Mowgliz, praticamente nasceu nos Sunderbans bengaleses. Filho do dono da maior operadora de turismo de natureza do país, a Guide Tours, Mansur começou a trabalhar como guia aos 14 anos de idade. A paixão pelo manguezal fez o menino abandonar a escola para se dedicar à profissão.
Hoje, ele é um dos maiores especialistas em golfinhos em todo o país. Sem sequer ter terminado a escola. Na opinião dele, cientista não precisa necessariamente estudar em uma universidade. Basta ter paixão e se dedicar a ela.
Mowgliz trabalha atualmente em um projeto patrocinado pela respeitada Sociedade para a Conservação da Vida Selvagem (Wildlife Conservation Society) ao lado do renomado cientista americano Brian D. Smith.
Ambos recrutaram outros jovens bengaleses apaixonados pela vida selvagem dos Sunderbans que hoje integram as expedições científicas do grupo.
O exemplo de Mowgliz me fez pensar em quantos talentos se perdem nos países em que a ciência é largamente considerada um privilégio de poucos iluminados.
Quanto Mowglizes será que desperdiçamos todo ano na Amazônia, no Pantanal, na Mata Atlântica e nos outros diversos ecossistemas brasileiros?
Vila dos tigres
As casas rústicas, com telhados de palhoça, invariavelmente equipadas com um fosso cheio d'água e normalmente cercadas por arrozais, dão a falsa impressão ao visitante de que Chandpai é um tranqüilo povoado como tantos outros próximos aos Sunderbans.
Basta conversar com os moradores para perceber que não é bem assim. A vila tem como visitante freqüente um (ou mais) tigre-de-bengala.
Há um ano, um dos imponentes felinos atravessou calmamente a rua principal da vila e se deitou no arrozal. De nada adiantaram os esforços dos moradores para espantá-lo. O tigre só decidiu ir embora no fim do dia.
De vez em quando ele (ou ela ou mesmo outros) volta. Cachorros, cabras e vacas são devorados. Assim, nessa ordem de preferência. Há cerca de três meses, a vítima foi uma senhora que aparentemente sofria de problemas mentais.
Ela insistia em sair à noite, embora os moradores de Chandpai considerem isso uma temeridade e dormia em um armazém ao lado da casa. Certa noite, o tigre veio, abriu um buraco na parede da construção, arrancou a senhora de lá e a matou.
Só não a devorou, porque a família acordada pelo alvoroço conseguiu assustar o bicho aos gritos.
Adam Barlow, o especialista britânico em tigres que toca um projeto de mapeamento e estudo dos tigres-de-bengala nos Sunderbans, me disse que esse comportamento é inexplicável em tigres.
Ninguém sabe o que faz os animais perderem o respeito natural que têm por humanos e invadirem vilarejos. Quando isso acontece, não há o que fazer. O tigre vai sempre voltar.
Barlow treina os moradores de Chandpai para diminuir os riscos de ataques e também montou uma equipe especial para ajudar tanto nos trabalhos de afastar os tigres quanto de atender os feridos.
Hoje, Chandpai vive em estado de alerta. Pegadas de tigres são fáceis de se ver em vários locais. Perguntei a um menino que nos mostrou uma dessas pegadas se ele já tinha visto o tigre.
"Eu não. Se o tigre me ver, ele me mata", foi a sábia resposta do garoto.
Hospital animal
Estamos ancorados próximo do povoado de Karamjal. Lá, funciona uma espécie de hospital para animais selvagens, um projeto do governo de Bangladesh tocado por um veterinário australiano.
Os animais que lá chegam foram resgatados das mãos de caçadores ilegais ou encontrados doentes pela população e são tratados antes de serem devolvidos à floresta.
Enquanto convalescem, os bichos são usados para levantar fundos para o "hospital": a entrada para o local custa 200 taka (menos de R$ 5). A maior parte dos animais são crocodilos, sendo que um casal "mora" lá em cativeiro e cria novos ovos.
Além dos jacarés, há também macacos, veados, pássaros e até um simpático filhote de gato selvagem, que está sendo criado à base de leite de vaca.
Confira imagens do hospital
9/Nov - Globalização é isso aí...
Queria agradecer a todos os leitores que têm lido e comentado este blog e aproveitar para responder algumas perguntas - peço desculpas antecipadas pela impossibilidade de responder a todos.
O Kim Gibson, de Fortaleza, por exemplo, escreveu para perguntar se a região de Bangladesh e Índia é a mais afetada pelo aquecimento global. Infelizmente, a resposta para essa pergunta, Kim, é não.
As mudanças climáticas não respeitam fronteiras e, cedo ou tarde, vão ser sentidas por todo o mundo, literalmente. As conseqüências é que vão variar de uma região para a outra.
No arquipélago da Indonésia, por exemplo, cientistas estimam que várias ilhas vão desaparecer, como, aliás, também em outros pontos do Oceano Pacífico.
Só que isso é o resultado de apenas um dos efeitos do aquecimento global: a elevação do nível dos oceanos.
Países com terras mais próximas do nível do mar, como é o caso de Bangladesh, vão perder parte ou todo o seu território por causa disso. Entre os outros efeitos estão mudanças nos regimes de chuvas em vários continentes e países, inclusive no nosso, secas e desertificação de áreas - e aqui, Bangladesh também está entre os "contemplados"- e outros problemas.
O caso de Bangladesh chama a atenção e serve como alerta para o mundo não por ser o pior de todos, mas por atingir uma população de mais de 140 milhões de pessoas, muitas delas já na pobreza e afetadas há tempos, quase todo os anos, por tragédias naturais.
O assunto é abordado pelo ao filme Uma Verdade Inconveniente, que rendeu ao ex-vice-presidente americano Al Gore um Oscar e um prêmio Nobel.
A fita é bastante informativa, embora tenha sido acusada de alguns exageros - a Justiça da Grã-Bretanha, por exemplo, destacou que nove pontos apresentados no filme não correspondem ao consenso da comunidade científica mundial.
Justiça seja feita 1
Entre os vários jornalistas de diversas nacionalidades do Serviço Mundial da BBC e da imprensa bengalesa a bordo do barco, está o cientista Attiq Rahman, o mais respeitado do país e uma das maiores autoridades em mudanças climáticas do mundo.
Para ele, que está entre os cientistas do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, da ONU, (IPCC, na sigla inglesa) laureados com o Nobel da Paz ao lado do já citado Al Gore (prometo que essa é a última!), Bangladesh e outros países em situação de fragilidade vão "pagar o pato pelo efeito estufa" para usar a expressão usada pela leitora carioca Camila, de 33 anos.
Para Rahman, a questão é simples: o aquecimento global é "muito provavelmente", segundo o IPCC, causado pela ação humana que libera os chamados "gases do efeito estufa" e os grandes culpados disso são os países desenvolvidos.
Se Bangladesh, como tantos outros países menores, praticamente não emite carbono, por que teria de "pagar o pato" pelo estilo de vida dos outros?
Na semana que vem, vai sair um novo resumo executivo do IPCC sobre o assunto. É bom lembrar que o grupo reunido pela ONU não recomenda nada, apenas resume e atualiza o consenso científico sobre mudanças climáticas.
A resposta para a pergunta de Attiq Rahman logo ali em cima vai ficar para ser respondida pelos governantes de todo o mundo a partir de dezembro, na reunião sobre o clima em Bali, na Indonésia, até 2012, quando vence a validade do atual Protocolo de Kyoto, que determina as responsabilidades desse rolo.
Justiça seja feita 2
Como andei falando por aqui que não vi ninguém jogar futebol nem críquete, nem nada, nada mais justo que registrar uma aparente paixão dos bengaleses: a música. Aqui no barco da BBC, praticamente toda a noite e seguramente todos os dias, a gente escuta alguém cantar alguma bela melodia tradicional de Bangladesh, como a que filmei em vídeo e postei aqui outro dia.
Veja fotos dos golfinhos e tigres dos Sunderbans
Soube com o auxílio dos intérpretes que a maioria delas são "canções do rio" - não canções do mar, como as nossas. Contam histórias dos barqueiros, de encontros com crocodilos, golfinhos e tigres. Os últimos aliás, freqüentemente vistos como inimigos, mas também como "guardiões dos Sunderbans".
Clique para ouvir a cantoria dos bengaleses
8/Nov - Enchentes, pobreza e ciclones
Como na matemática, a ordem dos fatores acima não altera o produto: sofrimento.
Um dos países mais pobres do mundo, Bangladesh está acostumado à luta pela sobrevivência.
A criação do país, em um episódio conhecido como "Guerra pela Liberdade", aconteceu em 1971, e fundou, por desavenças em questões como língua e economia, um Estado independente no que era então a parte oriental do Paquistão.
Desde então, o país vem tentando se erguer sobre os próprios pés, mas a tarefa não é fácil, diante da enorme população e das esparsas riquezas naturais.
Para alguns, a vida é ainda mais difícil. Conheci o carpinteiro Hakim Mistuki na comunidade ribeirinha de Golachipa, às margens do rio Ramnabhad. Aos 75 anos de idade, Mistuki não estava acostumado com enchentes.
Junto com a família, morava em uma parte do vilarejo que é protegida por um dique do sobe-e-desce dos rios bengaleses. Há seis meses, os Mistuki e cerca de outras cem famílias foram removidas de onde moravam pela Prefeitura local, que comprou o terreno.
Ganharam novos terrenos à beira do rio. Hoje, o carpinteiro vive em uma palafita a mais ou menos 20 metros do Ramnabhad e conta que, em certos dias, perde refeições por não poder sair de casa para comprar comida, de tanta água que passa debaixo da casa dele.
Outro dia, comentei aqui que, os bengaleses não pareciam ser chegados a futebol. Acho que agora já posso dizer com alguma certeza: futebol realmente não é a deles.
Nesse meio tempo, até vi um campinho de futebol ao lado de uma escola, mas ainda estou para ver alguém jogando bola - e olha que já vi bastante coisa desde que a viagem começou. Ainda não sei bem se isso se deve a um quase total desinteresse pelo esporte ou à falta de bolas...
Curiosamente, algumas pessoas já comentaram comigo que, apesar disso, em época de Copa do Mundo, o país se divide em dois: Brasil e Argentina.
Como o Brasil já levou cinco copas e nem assim eles se entusiasmaram a praticar o esporte, pode ser que quando a Argentina ganhe a sua terceira, eles afinal passem a jogar futebol.
Pensando bem, é melhor alguém sair distribuindo bolas para a garotada para ver o que dá.
Cadê o bicho? Já vi jacaré, veado, águia, cobra, muito passarinho, caranguejo e sei lá mais quantas espécies na Sunderbans.
Agora, o orgulho dos bengaleses, o famigerado tigre-de-bengala, este não sei por onde anda.
Veja fotos da fauna e da flora na Sunderbans
Ou melhor, até sei - hoje vi essa pegada aí acima na lama próxima a uma praia. Os guardas florestais do parque diante do qual passamos a noite ancorados disseram até ter ouvido o temível rugido da criatura na calada da noite.
Eu, até agora, nada.
7/Nov - "Floresta bonita"
Chega a ser surpreendente a mudança radical de paisagem quando se entra na região da Sunderbans - a 'floresta bonita', na língua dos bengaleses, o bangla.
Vila atrás de vila, barco atrás de barco, carregando de tudo (principalmente gente), de repente, nos vimos diante da natureza selvagem.
Às margens do rio, cabras e vacas deram lugar a crocodilos de cerca de 1,5 metro e veados em bando.
Assista ao trecho de uma música tradicional da região
Como o governo bengalês consegue manter o controle sobre a floresta (e aparentemente consegue), não sei. A explicação, segundo um bengalês que acompanha a viagem é nobre: Sunderbans e o tigre-de-bengala são os maiores orgulhos nacionais.
Veja fotos
Verdade ou não, fato é que não passamos mais por nenhum povoado ribeirinho. Mesmo atividades tradicionais, como a coleta de mel, são rigidamente controladas pelas autoridades, e só podem acontecer no mês de abril. A coleta de caranguejos do mangue foi proibida.
A ameaça são as mudanças climáticas. O tão falado aquecimento global pode causar estragos irreversíveis no ecossistema bengalês, mais rico em espécies do que toda a América do Norte, segundo os estudiosos.
Até 70% do território da Sunderbans pode ser inundado definitivamente com uma elevação do nível do mar de menos de um metro.
Para piorar, a previsão é que a região também fique ainda mais vulnerável aos freqüentes ciclones e tufões.
Com a pressão dos mais de 140 milhões de bengaleses que vivem - a grande maioria na pobreza - do outro lado, é difícil encontrar uma rota de fuga.
Nas margens dos rios de Bangladesh, a força da natureza demarca território.
São milhares de barcos afundados, casas destruídas e árvores arrancadas pela raiz.
Nos mesmos barcos afundados pode-se constatar a força de vida que as águas trazem a Bangladesh.
Meses depois da destruição, vida nova brota em todos os cantos.
Sentimos também a força das águas ao encalharmos em um banco de areia a caminho de um programa da BBC.
No meio do rio, onde nada existia há dois dias, surgiu um banco de areia no qual a água batia na minha canela.
Por sorte, com algum esforço em equipe, conseguimos desencalhar o catamarã e seguir viagem.
6/Nov - Criação e destruição
Para os céticos do aquecimento global, uma visita a Bangladesh pode fazer diferença. Acostumados a enfrentar catástrofes naturais todos os anos, os bengaleses aprenderam como poucos a conviver com duas faces básicas da natureza: criação e destruição.
As enxurradas que destroem casas e plantações são as mesmas que trazem sedimentos orgânicos que fertilizam as margens inundadas, de forma que - finda a enchente - a terra reaparece com uma fertilidade excepcional.
Agora, mesmo as comunidades ribeirinhas, com pouco acesso a relatórios do IPCC (o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas) ou notícias de enchentes catastróficas no México, falam de mudanças climáticas com intimidade.
Assista a um trecho de apresentação de dança típica
Nas palavras deles, os tempos mudaram, e com eles, chegaram ciclones mais freqüentes, intensos e prolongados, marés cada vez mais altas e chuvas ainda menos previsíveis.
Veja novas fotos da viagem
Nos últimos sete anos, na experiência de gente com quem falei aqui em Bangladesh, essa situação piorou.
Porém, engana-se quem pensa que o aquecimento global encabeça a lista de preocupações dessa gente. Para quem tem que andar um quilômetro para buscar água potável, não tem garantias de que vai comer a próxima refeição, não tem esgoto ou eletricidade nem acesso à saúde pública, aquecimento global é só um item a mais na lista.
Um item que, nos próximos anos, pode agravar e muito todos os problemas acima...
5/Nov - Muita gente e muita água
Para chegar até o barco da BBC ancorado no porto de Barisal, tivemos que encarar uma viagem de cerca de 7h em um microônibus lotado. Para quem, como eu, nunca esteve em Bangladesh, duas coisas chamam muito a atenção: a quantidade de água e de pessoas em todas as regiões que percorremos.
Clique aqui para ver o vídeo feito pelo repórter Eric Camara em Bangladesh
O país tem mais de 140 milhões de habitantes, há estimativas que chegam a 150 milhões, mas o que impressiona é a densidade demográfica - talvez a maior do mundo. As ruas são lotadas e, mesmo quando se pega cerca de 300 km de estrada, é difícil rodar mais de um minuto sem passar por uma aglomeração.
Veja fotos
Tão onipresente quanto as pessoas é a água.
Até chegarmos ao Rio Tetulia, vimos água de ambos os lados da estrada durante quase toda a viagem. Água que alimenta incontáveis plantações e áreas alagadas. E atravessamos de balsa um rio que, na época das chuvas de monções, típicas do verão, chega a ter quase 10 km entre as margens. É muita água.
Pessoas e água. Diante das mudanças climáticas que o planeta enfrenta, ambos se encontram dos dois lados da equação: são causadores da destruição e talvez os maiores afetados.
Estima-se que as águas podem sumir com 20% do território bengalês. Em um país com uma população tão grande, é difícil imaginar como um povo pode se adaptar a essas mudanças – mesmo se tratando de uma gente calejada como a de Bangladesh.
Bangladesh lidera o grupo dos menos desenvolvidos do mundo.
Mesmo com todas as dificuldades, passeamos por uma favela que, segundo os moradores, abrigaria 500 mil pessoas, e não nos sentimos intimidados em qualquer momento.
A única intimidação veio de crianças e mulheres que insistiram em que tirássemos fotos delas.
Nas favelas de Dhaka, a capital do país, não é raro deparar-se com bandeiras do Brasil pintadas nas paredes.
Isso dito, para quem vem do Brasil, é impressionante viajar 300 km sem ver unzinho só.

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