Foto: Lago de Ypacaraí Paraguai
O poluído "lago azul"
Alejandro Sciscioli
ASSUNÇÃO, 05/09/2005, (IPS) - Coliformes fecais, matéria orgânica, fósforo e nitrogênio poluem o Lago Ypacaraí, a principal atração do turismo interno no Paraguai. Resultados de um estudo da Agência Japonesa de Cooperação Internacional serão divulgados em breve.
"Uma noite morna nos conhecemos, junto ao lago azul de Ypacaraí", assim começa a mais famosa canção folclórica do Paraguai. Na principal atração do turismo interno paraguaio aumenta a poluição, que as autoridades negam, mas novos estudos confirmam. Cinqüenta quilômetros a leste de Assunção, Ypacaraí (Lago do Senhor, na língua guarani), tem uma bacia de 1.017 quilômetros quadrados e atrai anualmente centenas de milhares de veranistas. Segundo a Secretaria Nacional de Turismo, na última temporada de verão, mais de 300 mil pessoas foram à "villa veranista" de San Bernardino, na costa leste do Lago. Na margem oposta fica a cidade de Areguá.
A grande bacia é alimentada por outras quatro menores, formadas pelos rios Yukyry, Pirayú, San Bernardino e Areguá. O Lago deságüa no Rio Paraguai através do Rio Salado. Dez por cento dos habitantes do país, cerca de 600 mil pessoas, vivem em sua área de influência. Oitenta por cento dessa população vive nas margens do Yukyry, disse ao Terramérica Elena Benítez, diretora-geral de Recursos Hídricos da Secretaria do Ambiente (Seam). Benítez explicou que "os mangues atuam como descontaminantes da matéria orgânica" contida no esgoto que chega ao Lago.
A cobertura de saneamento é muito baixa no Paraguai, atendendo apenas 22% de Assunção e sua área metropolitana, e apenas 10% de todo o país, disse a funcionária. "O resto é despejado diretamente nos cursos de água ou no lençol freático, através dos poços e fossas sépticas", acrescentou. Na bacia do Yapacaraí, a Seam registra 145 indústrias em atividade, incluindo matadouros, frigoríficos, fábricas de sabão e curtumes. Também funcionam ali grandes hospitais públicos. Contudo, a Secretaria não conta com dados sobre volumes de descargas de dejetos industriais e esgotos. "O estudo estatístico está em execução", justificou Benítez.
Porém, "não é nenhum segredo que há mais de 30 anos o Lago Ypacaraí tem coliformes fecais", embora "se for feito um monitoramento em toda área poderemos dizer que, na média, não está contaminado". Entretanto, a Agência Japonesa de Cooperação Internacional (Jica, sigla em inglês) "detectou, em 2000, indícios sobre a existência de algumas algas que poderiam ser tóxicas", disse a funcionária. Em janeiro, plena temporada turística, surgiu no centro do Lago grande quantidade de espuma, enquanto era divulgado o informe da Jica.
Este fato levou à intervenção do promotor ambiental, Isacio Cuevas, que ordenou a realização de análises a três laboratórios: o do Ministério da Agricultura e Pecuária, o do Instituto Nacional de Tecnologia e Normalização e o do Ministério da Saúde. Foram encontrados "coliformes fecais, cromo e mercúrio, entre outros componentes, mas em níveis insignificantes", disse Cuevas, acrescentando com ironia: "Observando estas análises, eu tomo banho no lago". O promotor espera comparar esses resultados com os de uma quarta série de estudos, de especialistas do escritório da Jica no Brasil, sobre a grande bacia do Ypacaraí.
Hideo Kawai, técnico à frente desse estudo, disse ao Terramérica que os resultados ainda não estão disponíveis, mas adiantou que foram encontradas concentrações muito superiores às toleráveis de coliformes fecais, matéria orgânica, fósforo e nitrogênio. As águas do Lago são muito ricas em nutrientes, que favorecem a rápida reprodução de cianobactérias tóxicas, com a alga Microcystis aeruginosa, encontrada no Ypacaraí. Kawai explicou que a alga produz uma toxina cancerígena, capaz de afetar o fígado humano em caso de consumo constante, acrescentando que na água potável, processada pela empresa sanitária estatal Essap, não foram encontrados sinais de microcystis. A água potável chega a 87% da população de Assunção e sua área metropolitana.
Quando os estudos estiverem concluídos, Kawai fará uma série de recomendações às autoridades, que incluirão a execução de um plano-diretor e a busca de recursos técnicos e financeiros para tratamento do esgoto, fator primordial para a reprodução de cianobactérias. Além disso, é recomendável que moradores e turistas evitem o contato direto da pele com as águas do Lago, afirmou. Miguela González, proprietária de uma casa de fim de semana em San Bernardino, disse ao Terramérica que não permite que seus filhos, de sete e dez anos, se banhem nas águas quando visitam o lugar. "Agora, com as algas, é muito mais perigoso do que antes", acrescentou.
Fonte: Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(FIN/2005)
O que os seres humanos precisam mais se conscientizarem é que uma vez poluído o lençol freático, vai sobrar poluição para muita gente. É por isto que digo sempre, temos que ser ecologistas, até mesmo por egoismo, afinal, se o vizinho polui o lençol freático, vai sobrar para mim também...então, recomendo "vigilância e cuidados permanentes", fiquem de olho no seu quintal, no do vizinho e em todo o planeta!
Alejandro Sciscioli
ASSUNÇÃO, 05/09/2005, (IPS) - Coliformes fecais, matéria orgânica, fósforo e nitrogênio poluem o Lago Ypacaraí, a principal atração do turismo interno no Paraguai. Resultados de um estudo da Agência Japonesa de Cooperação Internacional serão divulgados em breve.
"Uma noite morna nos conhecemos, junto ao lago azul de Ypacaraí", assim começa a mais famosa canção folclórica do Paraguai. Na principal atração do turismo interno paraguaio aumenta a poluição, que as autoridades negam, mas novos estudos confirmam. Cinqüenta quilômetros a leste de Assunção, Ypacaraí (Lago do Senhor, na língua guarani), tem uma bacia de 1.017 quilômetros quadrados e atrai anualmente centenas de milhares de veranistas. Segundo a Secretaria Nacional de Turismo, na última temporada de verão, mais de 300 mil pessoas foram à "villa veranista" de San Bernardino, na costa leste do Lago. Na margem oposta fica a cidade de Areguá.
A grande bacia é alimentada por outras quatro menores, formadas pelos rios Yukyry, Pirayú, San Bernardino e Areguá. O Lago deságüa no Rio Paraguai através do Rio Salado. Dez por cento dos habitantes do país, cerca de 600 mil pessoas, vivem em sua área de influência. Oitenta por cento dessa população vive nas margens do Yukyry, disse ao Terramérica Elena Benítez, diretora-geral de Recursos Hídricos da Secretaria do Ambiente (Seam). Benítez explicou que "os mangues atuam como descontaminantes da matéria orgânica" contida no esgoto que chega ao Lago.
A cobertura de saneamento é muito baixa no Paraguai, atendendo apenas 22% de Assunção e sua área metropolitana, e apenas 10% de todo o país, disse a funcionária. "O resto é despejado diretamente nos cursos de água ou no lençol freático, através dos poços e fossas sépticas", acrescentou. Na bacia do Yapacaraí, a Seam registra 145 indústrias em atividade, incluindo matadouros, frigoríficos, fábricas de sabão e curtumes. Também funcionam ali grandes hospitais públicos. Contudo, a Secretaria não conta com dados sobre volumes de descargas de dejetos industriais e esgotos. "O estudo estatístico está em execução", justificou Benítez.
Porém, "não é nenhum segredo que há mais de 30 anos o Lago Ypacaraí tem coliformes fecais", embora "se for feito um monitoramento em toda área poderemos dizer que, na média, não está contaminado". Entretanto, a Agência Japonesa de Cooperação Internacional (Jica, sigla em inglês) "detectou, em 2000, indícios sobre a existência de algumas algas que poderiam ser tóxicas", disse a funcionária. Em janeiro, plena temporada turística, surgiu no centro do Lago grande quantidade de espuma, enquanto era divulgado o informe da Jica.
Este fato levou à intervenção do promotor ambiental, Isacio Cuevas, que ordenou a realização de análises a três laboratórios: o do Ministério da Agricultura e Pecuária, o do Instituto Nacional de Tecnologia e Normalização e o do Ministério da Saúde. Foram encontrados "coliformes fecais, cromo e mercúrio, entre outros componentes, mas em níveis insignificantes", disse Cuevas, acrescentando com ironia: "Observando estas análises, eu tomo banho no lago". O promotor espera comparar esses resultados com os de uma quarta série de estudos, de especialistas do escritório da Jica no Brasil, sobre a grande bacia do Ypacaraí.
Hideo Kawai, técnico à frente desse estudo, disse ao Terramérica que os resultados ainda não estão disponíveis, mas adiantou que foram encontradas concentrações muito superiores às toleráveis de coliformes fecais, matéria orgânica, fósforo e nitrogênio. As águas do Lago são muito ricas em nutrientes, que favorecem a rápida reprodução de cianobactérias tóxicas, com a alga Microcystis aeruginosa, encontrada no Ypacaraí. Kawai explicou que a alga produz uma toxina cancerígena, capaz de afetar o fígado humano em caso de consumo constante, acrescentando que na água potável, processada pela empresa sanitária estatal Essap, não foram encontrados sinais de microcystis. A água potável chega a 87% da população de Assunção e sua área metropolitana.
Quando os estudos estiverem concluídos, Kawai fará uma série de recomendações às autoridades, que incluirão a execução de um plano-diretor e a busca de recursos técnicos e financeiros para tratamento do esgoto, fator primordial para a reprodução de cianobactérias. Além disso, é recomendável que moradores e turistas evitem o contato direto da pele com as águas do Lago, afirmou. Miguela González, proprietária de uma casa de fim de semana em San Bernardino, disse ao Terramérica que não permite que seus filhos, de sete e dez anos, se banhem nas águas quando visitam o lugar. "Agora, com as algas, é muito mais perigoso do que antes", acrescentou.
Fonte: Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(FIN/2005)
O que os seres humanos precisam mais se conscientizarem é que uma vez poluído o lençol freático, vai sobrar poluição para muita gente. É por isto que digo sempre, temos que ser ecologistas, até mesmo por egoismo, afinal, se o vizinho polui o lençol freático, vai sobrar para mim também...então, recomendo "vigilância e cuidados permanentes", fiquem de olho no seu quintal, no do vizinho e em todo o planeta!
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