Salvar o planeta se tornou negócio de bilionário
Klaus Brinkbäumer e Ullrich Fichtner
Salvar o planeta costumava ser hobby reservado a ecologistas e outras pessoas de inclinações românticas. Mas agora se tornou negócio de executivos e bilionários. Pessoas pragmáticas como Bill Gates, George Soros e Richard Branson estão competindo em seus esforços de salvar o planeta por meio do espírito empreendedor.
A cada dia, a tarefa prática é a de salvar o planeta. E todos estão a bordo, do cabo Horn à Noruega, da Sibéria ao Havaí. As questões são o meio ambiente, a fome, a aids; A água, a paz, o lixo. São tudo e nada, monumentais e insignificantes a um só tempo. E as pessoas que se sentem atormentadas pelo destino do mundo estão na corrida por salvá-lo. Algumas sobem aos palcos para dar expressão musical ao que as preocupa. Outras trabalham sozinhas para resolver os problemas, grandes e pequenos, que afligem o planeta.
Bill Clinton está acomodado em um quarto no 18° andar do hotel Waldorf-Astoria, em Nova York. Chove lá fora. Ao lado dele, assistentes ocupados se movimentam, atendendo telefonemas aos sussurros. Ele ainda parece estar sentado no gabinete oval da presidência, mas mostra um rosto mais animado. Não está mais na Casa Branca, e sim no Waldorf, onde fará uma palestra: "Fazer é melhor do que falar", afirma.
A sala de conferência ao lado está lotada. As cortinas pesadas, as colunas e o carpete de um brilho dourado criam um clima de ópera para o evento; o título do espetáculo pende de uma faixa na parede: a iniciativa Clinton para o clima.
"Meu negócio agora é fazer", diz Clinton pouco antes de ser chamado ao palanque. É uma sentença intrigante vinda de um homem que ocupou o cargo mais poderoso do mundo durante oito anos. No passado, Clinton tinha o poder de declarar e encerrar guerras como preferisse. Tinha acesso instantâneo à elite do mundo. Negociou com todos eles, de representantes de governo a líderes da indústria, de comandantes militares a cientistas laureados com o Nobel. Mas só agora, afirma, ele sente que começou a trabalhar no negócio de fazer.
Há momentos de reflexão em sua vida, hoje em dia, nos quais ele pensa sobre seus anos na Casa Branca. Esses momentos o levam a acreditar que ele e os poderosos do mundo - seis ou sete outros líderes - não foram capazes de criar um planeta melhor. Clinton diz que eles se limitavam a discutir que palavras acrescentar a um documento. As disputas eram sobre palavras. Nenhum deles estava no "negócio de fazer".
Ao deixar a Casa Branca, em 2001, ele sentia não ter cumprido sua real missão. O mundo não era diferente daquilo que existia antes que assumisse o cargo - talvez tivesse até piorado. Bill Clinton, aposentado, um homem de posses, começou a questionar se havia fracassado na missão que traçou para sua vida, a de contribuir de forma concreta para a salvação do mundo.
E agora é hora do espetáculo para Clinton, e ele entra no salão para a palestra. Prefeitos de todo o mundo estão reunidos, presidentes de grandes bancos e empresas. Pessoas poderosas, pessoas influentes.
Clinton sobe ao palanque e começa a falar sobre as alterações climáticas. Define a questão como problema mundial que requer ação local. Ele informa aos prefeitos presentes que as cidades, suas cidades, consomem 75% da energia e produzem 75% dos gases do efeito-estufa. Declara que sua intenção é mudar isso. "É por isso que estou aqui". E acrescenta: "Podemos mudar as coisas. Não é tão difícil".
O objetivo da conferência é salvar o planeta - de baixo para cima, e não o contrário. A proposta central da conferência é oferecer isolamento térmico tão bom a 950 mil residências de Nova York que "as paredes e janelas não deixem escapar o ar frio no verão e o ar quente no inverno", diz Clinton.
Não se trata da palestra de um político dotado dos poderes da presidência. Ele está presente como Bill Clinton, homem comum, presidente de uma fundação cuja sede fica no Harlem, pertinho do Apollo Theater. A fundação William J. Clinton trata de questões que ele considera fundamentais para o mundo. Estimulou grandes empresas a oferecer remédios a preços acessíveis para os países africanos, e agora quer tornar mais verdes as cidades do planeta. O dinheiro da fundação vem de pessoas como Bill Gates, e o líder serve como intermediário entre seus amigos endinheirados e os pragmáticos que querem salvar o mundo. Teoricamente, Clinton não detém mais o poder. Mas continua dotado de conexões que lhe valem influência muito maior do que a de alguns líderes de governos.
Klaus Wowereit, o prefeito de Berlim, está presente, porque quer ser parte da solução e não parte do problema. Ele é recebido por Clinton com um abraço, e está sorridente, como os executivos de bancos e empresas que fornecerão os US$ 5 bilhões necessários ao programa. Todos parecem estar flutuando em uma nuvem de moralidade, energia e carisma que pouca gente consegue criar como Clinton.
À luz do dia, o projeto é uma tentativa de reformar o mundo começando de baixo, formando uma rede de cidades, e não países, dedicada aos objetivos corretos. É como se Clinton tivesse acatado os slogans dos inimigos da globalização que apupavam sua presença em reuniões do G-8 - "pensar globalmente, agir localmente".
Agora, todos estão no mesmo barco, todos conhecem o roteiro. Ninguém ficou de fora, nem os responsáveis por fomentar problemas no passado. A gigante do petróleo Chevron paga anúncios para anunciar o que pode fazer pelo futuro. Empresas como BP, Total, Renault e Canon anunciam intenções ambientais e ajuda no combate à fome. A posição de salva-vidas do planeta oferece recompensas, especialmente o selo da correção ambiental.
Der Spiegel
Klaus Brinkbäumer e Ullrich Fichtner
Salvar o planeta costumava ser hobby reservado a ecologistas e outras pessoas de inclinações românticas. Mas agora se tornou negócio de executivos e bilionários. Pessoas pragmáticas como Bill Gates, George Soros e Richard Branson estão competindo em seus esforços de salvar o planeta por meio do espírito empreendedor.
A cada dia, a tarefa prática é a de salvar o planeta. E todos estão a bordo, do cabo Horn à Noruega, da Sibéria ao Havaí. As questões são o meio ambiente, a fome, a aids; A água, a paz, o lixo. São tudo e nada, monumentais e insignificantes a um só tempo. E as pessoas que se sentem atormentadas pelo destino do mundo estão na corrida por salvá-lo. Algumas sobem aos palcos para dar expressão musical ao que as preocupa. Outras trabalham sozinhas para resolver os problemas, grandes e pequenos, que afligem o planeta.
Bill Clinton está acomodado em um quarto no 18° andar do hotel Waldorf-Astoria, em Nova York. Chove lá fora. Ao lado dele, assistentes ocupados se movimentam, atendendo telefonemas aos sussurros. Ele ainda parece estar sentado no gabinete oval da presidência, mas mostra um rosto mais animado. Não está mais na Casa Branca, e sim no Waldorf, onde fará uma palestra: "Fazer é melhor do que falar", afirma.
A sala de conferência ao lado está lotada. As cortinas pesadas, as colunas e o carpete de um brilho dourado criam um clima de ópera para o evento; o título do espetáculo pende de uma faixa na parede: a iniciativa Clinton para o clima.
"Meu negócio agora é fazer", diz Clinton pouco antes de ser chamado ao palanque. É uma sentença intrigante vinda de um homem que ocupou o cargo mais poderoso do mundo durante oito anos. No passado, Clinton tinha o poder de declarar e encerrar guerras como preferisse. Tinha acesso instantâneo à elite do mundo. Negociou com todos eles, de representantes de governo a líderes da indústria, de comandantes militares a cientistas laureados com o Nobel. Mas só agora, afirma, ele sente que começou a trabalhar no negócio de fazer.
Há momentos de reflexão em sua vida, hoje em dia, nos quais ele pensa sobre seus anos na Casa Branca. Esses momentos o levam a acreditar que ele e os poderosos do mundo - seis ou sete outros líderes - não foram capazes de criar um planeta melhor. Clinton diz que eles se limitavam a discutir que palavras acrescentar a um documento. As disputas eram sobre palavras. Nenhum deles estava no "negócio de fazer".
Ao deixar a Casa Branca, em 2001, ele sentia não ter cumprido sua real missão. O mundo não era diferente daquilo que existia antes que assumisse o cargo - talvez tivesse até piorado. Bill Clinton, aposentado, um homem de posses, começou a questionar se havia fracassado na missão que traçou para sua vida, a de contribuir de forma concreta para a salvação do mundo.
E agora é hora do espetáculo para Clinton, e ele entra no salão para a palestra. Prefeitos de todo o mundo estão reunidos, presidentes de grandes bancos e empresas. Pessoas poderosas, pessoas influentes.
Clinton sobe ao palanque e começa a falar sobre as alterações climáticas. Define a questão como problema mundial que requer ação local. Ele informa aos prefeitos presentes que as cidades, suas cidades, consomem 75% da energia e produzem 75% dos gases do efeito-estufa. Declara que sua intenção é mudar isso. "É por isso que estou aqui". E acrescenta: "Podemos mudar as coisas. Não é tão difícil".
O objetivo da conferência é salvar o planeta - de baixo para cima, e não o contrário. A proposta central da conferência é oferecer isolamento térmico tão bom a 950 mil residências de Nova York que "as paredes e janelas não deixem escapar o ar frio no verão e o ar quente no inverno", diz Clinton.
Não se trata da palestra de um político dotado dos poderes da presidência. Ele está presente como Bill Clinton, homem comum, presidente de uma fundação cuja sede fica no Harlem, pertinho do Apollo Theater. A fundação William J. Clinton trata de questões que ele considera fundamentais para o mundo. Estimulou grandes empresas a oferecer remédios a preços acessíveis para os países africanos, e agora quer tornar mais verdes as cidades do planeta. O dinheiro da fundação vem de pessoas como Bill Gates, e o líder serve como intermediário entre seus amigos endinheirados e os pragmáticos que querem salvar o mundo. Teoricamente, Clinton não detém mais o poder. Mas continua dotado de conexões que lhe valem influência muito maior do que a de alguns líderes de governos.
Klaus Wowereit, o prefeito de Berlim, está presente, porque quer ser parte da solução e não parte do problema. Ele é recebido por Clinton com um abraço, e está sorridente, como os executivos de bancos e empresas que fornecerão os US$ 5 bilhões necessários ao programa. Todos parecem estar flutuando em uma nuvem de moralidade, energia e carisma que pouca gente consegue criar como Clinton.
À luz do dia, o projeto é uma tentativa de reformar o mundo começando de baixo, formando uma rede de cidades, e não países, dedicada aos objetivos corretos. É como se Clinton tivesse acatado os slogans dos inimigos da globalização que apupavam sua presença em reuniões do G-8 - "pensar globalmente, agir localmente".
Agora, todos estão no mesmo barco, todos conhecem o roteiro. Ninguém ficou de fora, nem os responsáveis por fomentar problemas no passado. A gigante do petróleo Chevron paga anúncios para anunciar o que pode fazer pelo futuro. Empresas como BP, Total, Renault e Canon anunciam intenções ambientais e ajuda no combate à fome. A posição de salva-vidas do planeta oferece recompensas, especialmente o selo da correção ambiental.
Der Spiegel
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