02 maio 2008

AS FLORESTAS TROPICAIS E O SEU PODER DE ABSORÇÃO DO CO2



Durante os últimos anos, a especulação sobre a relação entre o aumento desproporcional na concentração de gás carbônico na atmosfera terrestre, que é conseqüência da queima de combustíveis fósseis, e os efeitos climáticos globais, se tornou um fato. Como conseqüência, um novo ramo da ciência surgiu. Em inglês se chama Global Change Biology e apesar de não estarmos usando oficialmente estes termos em revistas científicas em português por enquanto, poderíamos chamar este ramo de Biologia das Mudanças Climáticas.

Um fato de que temos que nos conscientizar é que o gás carbônico em excesso na atmosfera, produzido pelo nosso estilo de vida, está mesmo relacionado com as mudanças climáticas e que este não é, de forma alguma, um problema trivial. Nossa geração terá que enfrentar (e resolver) problemas muito sérios que possa até mesmo se tornar catastróficos, caso não façamos algo rapidamente.


Uma das formas de adotar uma atitude pró-ativa em relação a este problema é simplesmente passarmos a compreender melhor os diversos sistemas de produção de energia que estão por trás dos produtos que consumimos. Parece fácil, mas após um exame mais acurado percebemos que estamos atolados até o pescoço em nosso sistema de produção e praticamente tudo o que consumimos implica em emissão de carbono sujo. Carbono sujo se refere à parcela de carbono emitido em forma de gás carbônico a partir de um processo que envolva a degradação de petróleo ou de seus derivados.


................................................................................................................................................................................. O consumidor tem hoje que fazer uma série de perguntas antes de consumir. Após as perguntas óbvias como se tenho dinheiro para comprar, se o design me agrada etc., algumas perguntas a mais seriam:


1) este produto faz bem à minha saúde?


2) dá empregos localmente?


3) o produto faz parte de um programa geral que possibilita o desenvolvimento sustentável?


4) a matéria prima provém de alguma atividade prejudicial à sociedade organizada?


Tais perguntas surgiram recentemente e estão diretamente relacionadas com o esgotamento dos recursos naturais e o aumento desgovernado da população humana no planeta. Por trás destas perguntas está o fato de que se não equilibrarmos o uso dos recursos naturais no planeta, a civilização como a conhecemos simplesmente não sobreviverá. A pergunta 4 tem uma relação direta com a questão do CO2 e as mudanças climática. As questões relacionadas à eficiência de produção são importantes para o Brasil, na medida em que este país vem se tornando um dos pólos industriais mais importantes da América Latina. Mas o Brasil tem ainda outra grande responsabilidade: a manutenção dos biomas tropicais. Pensando apenas no contexto do problema do gás carbônico, as florestas Amazônicas e Atlânticas são de importância especial, pois constituem um dos maiores sumidouros de CO² no Planeta Terra.

A situação atual poderia ser descrita da seguinte forma:


1) ainda temos grande parte da Floresta Amazônica em pé, mas a invasão humana é iminente. Queimadas da floresta nativa trocam as paisagens por pastagens ou cidades;


2) Já destruímos grande parte da Mata Atlântica estamos destruindo rapidamente o cerrado.


As soluções imediatas para os dois problemas seriam:


1) parar as queimadas na Amazônia e intensificar os programas de conservação e uso sustentável;


2) regenerar pelo menos parte das florestas e cerrado perdidos. Estas duas atitudes já seriam passos enormes no auxílio ao problema do CO2 e as mudanças climáticas, pois deixaríamos de perder capacidade de seqüestrar carbono. Mas só isto não é suficiente, pois as emissões continuam e continuarão aumentando por conta do rápido avanço dos países em desenvolvimento (Ásia, América Latina e o Leste Europeu). Assim, na situação de momento parece ser praticamente impossível diminuirmos as emissões de carbono sujo no curto e médio prazo. Se isto ocorrer, as conseqüências climáticas serão drásticas. Há previsão de um aumento médio de temperatura na Amazônia de 5ºC. Parece pouco, mas estamos falando de média e isso significa que em alguns locais a temperatura poderia passar dos 45oc, o que torna a existências de muitas plantas impossíveis. Sem plantas não há consumo de CO² e conseqüente produção de biomassa. Portanto não há floresta e conseqüentemente não haverá mais seqüestro de carbono. O "saldo geral" de tudo isso é que se tentarmos uma previsão para os próximos 30 a 50 anos, o sentido parece ser de diminuir o seqüestro de carbono e não de aumentá-lo. As previsões de aumento de CO2, com base na atividade industrial da qual todo dependemos, indicam que o aumento deste gás dobrará em meados do século 21. Isto coloca um problema para a humanidade que deve ser um dos mais incríveis que já tivemos que resolver. Ou mudamos nosso estilo de vida e alteramos nossos meios de produção e consumo, ou encontramos soluções tecnológicas.


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A melhoria da eficiência de processos industriais é fundamental e dentre as diversas áreas tecnológicas, o campo da biotecnologia há uma forma bastante significativa de ajudar. Para tanto, é preciso que compreendamos melhor o funcionamento das florestas, especialmente as florestas tropicais. Pesquisas recentes vêm demonstrando que as florestas Neotropicais (da América Central e do Sul) são verdadeiros sumidouros de carbono, ou seja, através do processo fotossintético acoplado à produção de celulose durante o crescimento e manutenção da plantas, estas acumulam (um pouquinho por dia) carbono em seus corpos e depois de anos se verifica o que este acúmulo resulta no que se chama de seqüestro de carbono. Para se ter uma dimensão da importância das florestas tropicais, basta dizer que elas são responsáveis por cerca de 40% da capacidade de assimilação de carbono no ambiente terrestre. Assim, será de importância fundamental para que as gerações presente e futura compreendam os mecanismos envolvidos da assimilação e transformação do carbono em celulose nas plantas. Objetivamente, neste momento temos que nos concentrar em compreender os mecanismos envolvidos no ciclo de carbono na biosfera. Em outras palavras, compreender os mecanismos que controlam o fluxo de compostos de carbono dentro dos seres vivos. As plantas são de particular importância nesse contexto, pois elas são as captadoras do CO² e o processam através de um sistema altamente sofisticado.

Nas árvores, este processo pode ser dividido em 3 partes:


1) assimilação do CO² através da fotossíntese;


2) transformação do CO² em açúcares (sacarose, glucose, frutose e amido) e


3) síntese e acúmulo da celulose.


A conseqüência direta do acoplamento desses três mecanismos é o crescimento vegetal, que é o parâmetro principal que determina o desenvolvimento e dinâmica das florestas.


Assim que o problema da correlação entre o aumento de CO² e o aumento de temperatura na atmosfera foi apontado pelo grupo do pesquisador da NASA James Hansen, que publicou um trabalho na revista Science onde foi apresentado dados consistentes demonstrando os aumentos de temperatura em todo o planeta e não em uma região específica, diversos pesquisadores iniciaram experimentos, principalmente com plantas do hemisfério norte (região temperada), para compreender em primeiro lugar aspectos relacionados ao passo 1 (assimilação do CO²).

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Pesquisadores brasileiros e americanos se uniram e instalaram torres em pontos estratégicos da Floresta Amazônica com as quais tem sido possível avaliar diversas características do comportamento da floresta do ponto de vista da atmosfera. Por exemplo, as torres medem automática e continuamente quanto de CO² entra e sai do sistema. Tudo isso é correlacionado com outros dados atmosféricos e pesquisadores do Instituto Astronômico e Geofísico da USP (o grupo do Prof. Pedro Dias), por exemplo, estão trabalhando em modelos para explicar como o sistema funciona.

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A melhor forma de evitarmos as conseqüências das emissões de gases do efeito estufa é a conscientização dos governos e populações que vivem nas regiões industrializadas de que precisamos emitir menos CO² para a atmosfera. Por outro lado, novas tecnologias estão se tornando disponíveis e o desenvolvimento tecnológico no século XXI promete ser bastante expressivo. Tais tecnologias poderiam, talvez, serem usadas em caso de emergência.
Fonte: Revista da MadeiraURL: http://www.remade.com.br/

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