Consumo de combustível é proporcional à emissão de CO2,; logo, quanto menos um carro gasta, menos gás carbônico ele emite
Texto: Fernando Calmon (05-06-08) - Diminuir o consumo de combustível é a bola da vez entre as prioridades da indústria automobilística mundial. De modo pragmático, entra na equação a escalada preocupante do preço do petróleo, que simplesmente dobrou em dois anos, até atingir o pico de US$ 135 o barril. Desvalorização do dólar, explosão de consumo na China, conflitos bélicos no Oriente Médio, especulações com matérias-primas, concentração das reservas em poucos (e complicados) países e falta de investimentos em novas refinarias explicam as altas.
Por outro lado há um grande espaço para veículos mais limpos em termos de emissões. Idéia fixa dos ambientalistas, os carros aparecem como um dos vilões do meio ambiente. Trata-se de meia-verdade. Automóveis modernos apresentam índices muito baixos de poluentes tóxicos e com tendência de cair ainda mais. O problema, apontam os críticos, está no gás carbônico (CO2), um dos que favorecem o aquecimento da atmosfera. O fenômeno conhecido como agravamento do efeito-estufa teria o poder de mudar o clima, derreter calotas polares, aumentar o nível dos oceanos e inundar cidades costeiras, afirmam os alarmistas.
O CO2 não é um poluente no sentido deletério da palavra (como a maioria pensa, de forma equivocada), pois sem ele a vida seria inviável. Cientistas sérios garantem: ciclos de calor e frio do planeta são irreversíveis; o homem nada pode fazer para mudar de forma decisiva o clima, tanto para o bem como para o mal. A flatulência e a produção de esterco do rebanho bovino, por exemplo, geram gases de efeito estufa até 20 vezes mais atuantes – metano e óxido nítrico.
O pior é que políticos abraçaram essas teses duvidosas e vão impondo restrições à mobilidade. Em meio a essa histeria carbônica, veio a ordem de reduzir as emissões de CO2 a qualquer custo. E aí, de novo, entra a economia de combustível, porque menor consumo significa menor emissão de CO2 em relação direta (quase 1:1). Então, economizar gasolina, álcool ou diesel no mínimo fará bem à saúde do bolso e nisso todo mundo mostra interesse.
O que está ao alcance
No Brasil não existem as mesmas opções de automóveis, como no exterior, para quem desejar economizar na conta mensal de combustível ou diminuir emissões. Quem tem consciência ecológica apurada deve considerar, em primeiro lugar, a utilização de álcool nos motores flex, independentemente do preço relativo. O combustível renovável, se custar nas bombas até 70% do preço da gasolina, também garante vantagem no custo por km rodado.
A evolução tecnológica levou a que motores a gasolina e álcool atinjam níveis próximos em termos de emissões dos principais poluentes tóxicos: monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos (HC). Álcool apresenta emissões de aldeídos superiores à gasolina, mas este é um gás menos tóxico e só se forma por alguns minutos na fase curta de aquecimento do motor. Catalisadores e recalibrações eletrônicas são capazes de reduzir drasticamente esses poluentes.
A partir de janeiro de 2009, todos os automóveis vendidos no Brasil se enquadrarão em nível mais severo (PL 5) do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores). Portanto, os que adiarem a compra por alguns meses terão um carro mais limpo. E no próximo ano, motores flex dispensarão gasolina na partida em dias frios e emitirão ainda menos aldeídos.
Importante ressaltar a impossibilidade de desenvolver filtro ou catalisador para CO2. Faz parte do processo de combustão, embora com álcool as emissões sejam cerca de 20% menores, se comparadas à gasolina. O grande benefício do etanol (álcool etílico), em particular o obtido da cana-de-açúcar, é sua capacidade de neutralização com mais de 95% de eficiência. O crescimento dos canaviais inclui o processo natural de fotossíntese: qualquer planta absorve CO2 e devolve oxigênio para atmosfera. Etanol de cana, praticamente, nada colabora para o efeito estufa.
Gás natural veicular (GNV) apresenta emissões menores do que gasolina, desde que sejam utilizados kits de adaptação homologados. Kit incompleto logo se desajusta e passa a poluir mais. No entanto, há várias desvantagens: preço do equipamento (mais de R$ 3.000), gastos extras de manutenção, acelerações lentas, diminuição do porta-malas, afeta estabilidade direcional e em curvas, sobrecarga mecânica (molas, amortecedores, freios, transmissão), rede pequena de abastecimento, baixa autonomia. Muito sacrifício para pouco resultado no bolso, em especial se comparado ao etanol barato em São Paulo, por exemplo.
Outra opção, diesel, provavelmente será liberada no Brasil para veículos leves a partir de 2011, quando o país conseguir independência de importações.À exceção do combustível, restam poucas alternativas para proteção do meio ambiente aqui. Escolher um veículo pequeno, de menos massa ou de menor cilindrada para diminuir o consumo, além de optar por um câmbio manual automatizado (no momento restrito a Meriva e Stilo). Permite até 4% de economia de combustível, mas o preço fica acima dos R$ 2.000.Opções no exteriorMotores a diesel alcançam de 20% a 25% de economia em consumo e, por conseqüência, emitem menos CO2. Representam cerca de metade das vendas atuais de automóveis no continente europeu. Porém, são mais caros e nos carros baratos sua vantagem é bem menor, em especial porque o preço do diesel está próximo – e até maior – que o da gasolina. Nos EUA e no Japão a participação de mercado é baixíssima. No resto do mundo não passa de 30% dos veículos leves.
O diesel apresenta dificuldades sérias de emissões de NOx e material particulado. As soluções – ou muletas técnicas – encarecem o veículo, além de complicar e aumentar os custos de manutenção. Apesar da evolução, são pesados, ruidosos e ásperos. O motor gira pouco, embora com imenso torque. Mas motores a gasolina reagem graças à injeção direta e uso de turbocompressores (100% dos diesel são assim). Esses recursos já reduziram para pouco mais de 10% a desvantagem no consumo. E continuará melhorando com a eliminação da borboleta de aceleração, além de dispositivos que cortam a alimentação em cilindros de acordo com o uso.
Veículos híbridos a gasolina e eletricidade avançam lentamente. São muito caros e dependem do preço da gasolina para atrair compradores. Permanecem dúvidas sobre custo-benefício e preço para substituir ou reciclar as baterias especiais. Se utilizados em estradas ou vias expressas rápidas, o motor elétrico deixa de funcionar e a poupança de combustível desaparece. Não há expectativa de importação de híbridos para o Brasil, até pela manutenção mais complexa.
Surgirão outros avanços de cinco a dez anos à frente, como veículo elétrico com motor a combustão exclusivo para recarregar as baterias e, adiante, pilhas a hidrogênio também para tração 100% elétrica.
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