01 julho 2008

A RIQUEZA DA BIODIVERSIDADE DO PLANETA


Riqueza desconhecida

No mundo, há cerca de 1,4 milhão de espécies formalmente descritas, mas as estimativas sobre a biodiversidade total variam de cinco a 50 milhões. Conhecer esses ‘anônimos’ é fundamental para embasar – e tornar mais efetivas – as ações de conservação da natureza.
Com freqüência, é divulgada na mídia a descoberta de possíveis novas espécies durante uma expedição científica. Isso acontece porque ainda se conhece muito pouco sobre a biodiversidade: no mundo, há cerca de 1,4 milhão de espécies formalmente descritas, mas as estimativas sobre o total de organismos vivos variam de cinco a 50 milhões.
“Esta diferença de uma ordem de magnitude mostra o nível da nossa ignorância e o quanto necessitamos de pesquisas básicas de inventários biológicos. Além da necessidade de apoiar estudos taxonômicos”, afirma o biólogo e consultor ambiental Fábio Olmos.
Para diminuir esta lacuna de conhecimento e contribuir com a conservação da natureza brasileira, a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza financia projetos relacionados à biodiversidade. Uma dessas pesquisas apoiadas realizou uma expedição científica na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, na qual foram mapeadas e registradas ao menos 440 espécies de vertebrados, sendo 14 delas prováveis novas espécies. O projeto, que conta com uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Carlos e Universidade Federal do Tocantins, objetiva realizar um inventário e zoneamento amplo de vertebrados nessa estação ecológica, compilando um banco de ocorrências georreferenciadas, fundamento crucial para tomadas de decisões em conservação e manejo.
O coordenador do projeto, Cristiano Nogueira, biólogo e analista de biodiversidade da Conservação Internacional do Brasil, ressalta a importância de pesquisas como essa. “Conhecer a distribuição e composição de espécies fornece dados e indícios fundamentais na busca por explicações sobre padrões naturais de diversidade e ecologia das espécies. Sem esse conhecimento básico, não há como testar e propor novas hipóteses sobre a história evolutiva das espécies e seu papel como integrantes fundamentais dos ecossistemas naturais na Terra”, explica.
A falta de conhecimento sobre a diversidade é maior em biomas pouco pesquisados. “Nosso conhecimento sobre a diversidade da vida é bastante imperfeito. Por isso, espécies ainda desconhecidas são descritas a cada expedição científica, especialmente naquelas que amostram localidades ou hábitat pouco explorados, do fundo do mar a parcelas da Mata Atlântica e do Cerrado”, comenta Olmos. “As aves são de longe o grupo melhor conhecido. Sei de pelo menos dez espécies de aves brasileiras aguardando descrição no futuro próximo. Imagine a diversidade ainda aguardando descrição entre grupos menos badalados como vírus, fungos, formigas ou anfíbios”, completa.
Conhecer para conservarA pesquisa científica é de grande importância no Cerrado, um bioma altamente ameaçado pelo avanço da agropecuária. É considerado um dos 34 hotspots de conservação mundial – área com grande importância biológica e alto risco de degradação. Nogueira ressalta a importância da pesquisa nesse ecossistema tão pouco conhecido, que está desaparecendo antes mesmo de ser estudado em termos de diversidade de fauna. “Até recentemente, a fauna de vertebrados na região do Cerrado era uma das menos estudadas em toda a região Neotropical (uma das mais ricas e pouco estudadas em termos biológicos em todo o planeta). Sem conhecer bem a composição das espécies e sua distribuição geográfica, é praticamente impossível planejar boas ações de manejo e conservação de áreas naturais, como parques e reservas”, diz Nogueira.
“Infelizmente muitos dos inventários faunísticos no Cerrado são atrelados a grandes eventos de perda de hábitat, especialmente empreendimentos hidrelétricos. Obter dados em regiões livres de impactos, como reservas e áreas remanescentes, permite que o conhecimento científico básico esteja disponível antes da perda dos ambientes naturais, favorecendo melhores ações de planejamento e conservação. Neste sentido, inventários como os financiados pela Fundação Boticário são de grande importância”, afirma Nogueira. A Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, com mais de 700 mil hectares, é a segunda maior área protegida em todo o Cerrado, e os dados reunidos deverão auxiliar na elaboração do futuro plano de manejo da reserva, inserida na região do Jalapão, uma das mais complexas e amplas regiões naturais do Cerrado brasileiro. O pesquisador explica que quando se tem bons dados científicos sobre composição e ocorrência de espécies é mais fácil definir quais ações são prioritárias para a conservação, tanto em escala local quanto regional. “Assim, existe um link direto entre conservação e conhecimento científico básico. Muitas dessas novas espécies, que até então eram desconhecidas, são endêmicas da região do Cerrado e, por não serem encontradas em nenhuma outra região, nos permitem identificar padrões e processos evolutivos únicos. Em síntese, não há como conservar o que não se conhece”, completa Nogueira.
O biólogo, professor e diretor científico e curador do Herbário Barbosa Rodrigues, Ademir Reis, concorda que só é possível preservar aquilo que se conhece. Só após estudar a biodiversidade será possível alcançar êxito em sua preservação. “Esses estudos ainda são muito principiantes. Ainda não conhecemos a nossa biodiversidade e muito mesmo como fazer a devida conservação da mesma. Por isso, as pesquisas são básicas para que possamos descobrir estes passos”.
Nogueira explica que conhecer a biodiversidade é importante na sensibilização da população às causas conservacionistas. “Sabemos que documentar e descobrir a fauna do Cerrado é importante, pois ajuda a revelar, ao público geral, quão rico e diverso é o Brasil e quanto estamos perdendo em termos de espécies e processos únicos com a perda de hábitat no Brasil central”.
Novas espécies:
Atualmente, há 34 espécies que já foram ou estão sendo descritas como novas e que foram descobertas por meio de estudos realizados em projetos apoiados pela Fundação O Boticário. Se as 14 possíveis novas espécies mapeadas na expedição na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins forem confirmadas, esse número deve subir.
Quatro espécies receberam o nome Boticário como reconhecimento ao apoio que a Fundação O Boticário dá a projetos de conservação da natureza. São elas: Aphyolebias boticarioi, Megaelosia boticariana, Passiflora boticarioana e Listrura boticario.


Foto: Bachia sp., uma das prováveis novas espécies encontradas na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, durante expedição realizada por projeto apoiado pela Fundação O Boticário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário