23 maio 2008

ATÉ QUANDO CONTINUAREMOS A POLUIR OS NOSSOS RIOS???

Bacia do Prata (América do Sul) tem como sua principal ameaça as grandes barragens e as mudanças radicais na estrutura hidrológica. (Adaptado de WWF, 2007)

31/08/2007 - Quais as bacias hidrográficas mais ameaçadas na atualidade e quais são os principais motivos para termos 41% da população mundial sob risco de falta de água potável?
Por Lucas Gonçalves da Silva*
A discussão em torno da temática da água cada vez mais cresce e, simultaneamente a essa discussão cresce a ameaça às bacias hidrográficas e fontes de água doce do planeta. Por conta disso, após diversas publicações científicas específicas relatando a situação de várias bacias hidrográficas do mundo, o WWF lança uma compilação de dados chamada “World Top 10 Rivers at Risk” onde apresenta as principais ameaças aos mais importantes rios da Terra (WWF, 2007).A inclusão das bacias hidrográficas dentro desta listagem nada agradável para suas populações leva em consideração as pressões e ameaças que as mesmas sofrem na atualidade. Segue a listagem das 10 bacias sob maior risco, localização geográfica das mesmas e a principais ameaças de cada uma delas.
Salween/Nu (Ásia) – Bacia hidrográfica de 272.000 Km2, população de aproximadamente 6 milhões de pessoas. Tem como principais atividades econômicas agricultura e pesca. As principais ameaças são: A proposta de 16 novas grandes barragens em seus 2800 Km de extensão e instituições governamentais pouco eficazes por conta de instabilidade política e guerra civil na região.Danúbio (Europa) – 81 milhões de pessoas vivem nos 801.463 Km2 da bacia hidrográfica que tem o rio Danúbio, com 2780 Km de extensão como seu principal formador. Novas infra-estruturas de navegação e 8 grandes barragens, além de espécies invasoras e alta taxa de poluição ameaçam esta bacia que tem a navegação e a indústria como principais atividades econômicas.Usina hidrelétrica de grande porte no Rio Danúbio (Europa).(Adaptado de WWF, 2007)Bacia do Prata (América do Sul) – Composta por três principais rios: Paraná, Paraguai e Uruguai. Parte da bacia encontra-se dentro do território brasileiro. Compreende mais de 3 milhões de Km2 e possui cerca de 100 milhões de habitantes. Principais atividades econômicas: Agricultura e pesca. Diversas ameaças são eminentes na bacia: 27 novas barragens propostas, mudanças radicais na estrutura hidrológica para navegação e barramentos, além da poluição, sobre-pesca e alterações climáticas.
Rio Grande/Rio Bravo (América do Norte) – A extração excessiva de água desta bacia compõe sua principal ameaça. Além disso, outras ameaças como salinização da água doce e espécies invasoras também são reconhecidas. A bacia compreende aproximadamente 608.000 Km2 e possui 10 milhões de habitantes nos Estados Unidos e México.
Ganges (Ásia) – As ameaças-chave desta bacia hidrográfica são: A excessiva extração de água e 14 grandes barragens propostas, além de mudanças climáticas que alteram as nascentes em grandes altitudes. A bacia possui mais de 1 milhão de Km2 e em torno de 200 milhões de pessoas, o que evidencia uma altíssima densidade demográfica na região que tem atividades de agricultura como o principal de sua economia.
Indus (Ásia) – 1.081.470 Km2 compreende esta bacia hidrográfica que tem como principal ameaça as mudanças climáticas do planeta. 180 milhões de pessoas vivem principalmente da agricultura que está ameaçada também por 6 novas barragens propostas, extração excessiva de água, poluição de agrotóxicos e proposta de nova infra-estrutura de navegação.
Nilo/Lago Viktoria (África) – 360 milhões de pessoas vivem nos 3.255.000 Km2 da bacia do Nilo/Lago Viktoria, que está inclusa no território de 10 países africanos. A agricultura é a principal atividade econômica da região e as mudanças climáticas a principal ameaça. Também há ocorrência de espécies invasoras e extração excessiva de água para irrigação.
Murray/Darling (Oceania) – Bacia hidrográfica que tem como principal ameaça espécies invasoras e a fragmentação dos rios que compõem a bacia. Compreende boa parte do território australiano com cerca de 1 milhão de Km2 e uma população de 2 milhões de pessoas. A agricultura e o turismo são as principais atividades econômicas da região.
Mekong (Ásia) – O rio Mekong possui 4600 Km de extensão e sua bacia compreende 806.000 Km2. A sobre-pesca e pesca ilegal são as principais ameaças à bacia que abastece quase 60 milhões de pessoas de 6 países asiáticos. Possui o assustador número de 149 barramentos propostos além de 58 já construídos. O desmatamento e a carga de sedimentos e agrotóxicos por conta dele jogados nos rios também são ameaças desse sistema que tem a aquacultura e pesca como principais atividades econômicas.
Yangtzé/Rio Amarelo (Ásia) – 430 milhões de pessoas vivem nos quase 2 milhões de Km2 da bacia mais ameaçada do mundo por conta da poluição das águas por sedimentos de esgoto doméstico e efluentes de indústrias. 105 barragens estão propostas e algumas delas já estão em construção (Pu, 2003). Pesca ilegal e sobre-pesca também são ameaças desta bacia que tem a indústria, agricultura e transportes como principais fontes de renda.
Para chegar a esses dados mais de 100 produções bibliográficas de pesquisadores, ambientalistas e órgãos governamentais foram compiladas e elas mostram nada menos que 41% da população do planeta sob forte ameaça, seja em seu abastecimento de água potável ou em suas principais atividades econômicas (Bereciartua & Novillo, 2002). A Ásia é o continente que possui o maior grau de ameaça com relação à hidrografia no planeta, como evidencia a lista dos rios ameaçados (WWF, 2004 & 2007).Com relação à Bacia do Prata, que está parcialmente localizada dentro do território nacional e é de interesse direto dos brasileiros, temos as hidrelétricas de grande porte como principais ameaças. Tomando como exemplo o Rio Uruguai, apenas no trecho gaúcho do rio 3 grandes hidrelétricas foram construídas nos últimos anos e mais 2 estão projetadas. O governo brasileiro e programas estaduais priorizam investir na energia hidrelétrica por conta de ser uma forma chamada “limpa” e argumentam que gerará renda para as populações locais. Porém não leva em conta o fato dela ser extremamente danosa ao meio ambiente. Segundo órgãos de pesquisa as usinas são as principais ameaças à bacia hidrográfica do Prata (Halloy, et al. 2005), então, obviamente, os recursos e deveriam ser destinados à outras fontes de energia e na preservação ambiental regional, que conseqüentemente geraria igualmente renda para as populações locais.Os dados são alarmantes e as ações devem ser feitas com a maior agilidade possível. Grande parte da população mundial corre risco por conta da ameaça dos principais rios do mundo e, que esses dados divulgados sirvam de alerta para os governos de todos os países que dependem diretamente destes mananciais hídricos. É de extrema importância para o planeta e sua população a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade encontrada nos rios e nas áreas compreendidas por essas bacias.


*O autor é biólogo e pesquisador do Laboratório de Geoprocessamento da PUCRS. Reprodução autorizada citando-se a fonte (EcoAgência).


REFERÊNCIAS:

Bereciartua, P., Novillo, M. G. 2002. Thematic Planning Meeting on IAEA Activities in River Basin Management. In UNESCO National Committee for the International Hydrological Programme (IHP) Argentina. Vienna, Austria. 2-6 December 2002.
Halloy, S, et al. 2005. Estudio Puerto Busch – Opciones para la ubicación de um Puerto soberano de Bolivia en el Sistema Paraguay-Paraná. WWF, Earth Institute at Columbia University, New Zealand Institute for Crop and Food Research: Santa Cruz de la Sierra, Bolivia.
Pu, Qinghong. 2003. Integrated Strategies to Control Industrial Water Pollution in the Yangtze River of China. Presentation at the International Conference of GIS and Remote Sensing in Hydrology, Water Resources and Environment, China. 16 September 2003. Canberra, Australia. Centre for Resource and Environmental Studies, Australian National University.
WWF. 2004. Dam Right: Rivers at Risk. WWF Dams Initiative. WWF International: Gland, Switzerland.http://www.ecoagencia1.com.br/index.php?option=content&task=view&id=2588&Itemid=62

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