06 setembro 2008

CRÉDITOS DE CARBONO E SEUS DESVIOS EM PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO



Mercado de crédito de carbono é alvo de abusos na Índia

Investigação aponta que projetos no país recebem incentivo sem necessidade.

Uma investigação do Serviço Mundial da BBC realizada na Índia encontrou provas de graves falhas no sistema do mercado global de venda de créditos de carbono, que movimenta bilhões de dólares.

Os créditos são gerados por um programa criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

O mecanismo dá a companhias em países em desenvolvimento incentivos financeiros para o corte das emissões de gases de efeito estufa.

Mas, segundo a investigação da BBC, créditos de carbono estão sendo pagos para projetos que teriam sido colocados em prática de qualquer forma, sem precisar de ajuda financeira.

O Serviço Mundial da BBC encontrou como exemplos três projetos na Índia.

Para receber créditos de carbono do MDL, os projetos devem demonstrar que reduzirão emisssões de carbono de forma "adicional" ao que teria acontecido sem os créditos.

Os compradores dos créditos gerados pelo MDL são companhias em países desenvolvidos, a maior parte delas na Europa, que os usam para compensar as suas próprias emissões.

O objetivo é dar a empresas ocidentais uma alternativa para atingir as suas metas de cortes de emissão e ao mesmo tempo estimular o setor privado de países em desenvolvimento, que pelo Protocolo de Kyoto não têm metas obrigatórias de redução, a cortar as suas emissões.

Por essa razão, o sistema só funciona se as empresas participantes realizarem cortes de emissão reais (em relação ao que produziriam se não aderissem ao mecanismo).

Gerador

Um caso de abuso encontrado pela BBC envolve a instalação de um gerador de biomassa que deve fornecer eletricidade para uma instalação de processamento de arroz em Uttar Pradesh, no norte da Índia.

A KRBL, maior companhia exportadora de arroz basmati da Índia, gastou US$ 5 milhões com o gerador, que substituiu um sistema à base de diesel.

O gerador é movido a cascas de arroz, fonte de energia renovável que geralmente era jogada fora no processo de moagem.

A companhia já está com o procedimento de registro do programa MDL quase completo e vai receber várias centenas de milhares de dólares por ano.

Mas, quando questionado sobre a importância dos créditos de carbono para a decisão de instalar o gerador de biomassa, um dos gerentes da companhia, Manoj Saxena, afirmou que o projeto seria feito mesmo sem os fundos do MDL.

Resíduo industrial

A companhia de produtos químicos SRF também está recebendo créditos de carbono do MDL por eliminar um resíduo industrial conhecido como HFC23, um gás de efeito estufa muito forte.

O HFC23 é um resíduo da fabricação de refrigeradores e aparelhos de ar condicionado. É cerca de 12 mil vezes mais tóxico que o dióxido de carbono se entrar na atmosfera.

A eliminação deste gás é relativamente fácil e barata, basta queimá-lo em um incinerador. E a SRF instalou um incinerador para queimar o HFC23 em suas instalações no Rajastão.

O projeto foi registrado e está recebendo 3,8 milhões de créditos de carbono por ano que, atualmente, valem entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões por ano.

A SRF deve receber os créditos por um período de cerca de dez anos, o que significaria créditos acumulados de US$ 500 milhões, uma soma gigantesca para uma pequena empresa indiana.

A companhia não divulgou o custo da instalação do incinerador, mas o valor é bem menor do que o valor dos créditos obtidos.

O número de créditos de carbono dados à SRF e outras companhias parecidas por eliminar o HFC23 está ligado ao seu potencial impacto ambiental. O custo real da eliminação do gás não é levado em conta.

O terceiro caso investigado pelo Serviço Mundial da BBC foi um grande projeto hídrico no Estado de Himalchal Pradesh, no norte da Índia.

Críticos e defensores do projeto apresentam diferentes argumentos para avaliar se o projeto realmente merecia ser qualificado para o recebimento de créditos de carbono.

Defesa

Mais de mil projetos já se qualificaram para o mercado de créditos de emissão de carbono e outros 3 mil já se inscreveram.

O comércio de créditos de carbono pelo MDL já alcançou um valor de cerca de US$ 10 bilhões ao ano.

O responsável pelo gerenciamento do MDL, Yvo De Boer, autoridade máxima da Convenção da ONU para Mudanças Climáticas, alega que existe "um procedimento que funciona".

De Boer se refere ao complicado processo de registro que todos os projetos têm que passar para se qualificar para o recebimento dos créditos de carbono do MDL.

Mas mesmo De Boer reconhece que o sistema não é perfeito. "No final das contas, é sempre uma questão de julgamento", afirmou.

Fonte: http://noticias.br.msn.com/artigo_BBC.aspx?cp-documentid=7904945 - BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

04 setembro 2008

O EFEITO PARA O MEIO AMBIENTE DAS MUDANÇAS DE HABITATS



Desafios do século XXI para o Brasil: barreiras sanitárias e ambientais, espécies invasoras exóticas e biopoluição (23/11/2006)

Por: Maria Regina Vilarinho

As mudanças nos hábitos humanos nas últimas décadas vêm sendo provocadas por múltiplos fatores. A mídia televisiva ao abrir as portas do mundo começou a mostrar fatos corriqueiros de lugares exóticos. Atualmente, a internet e o telefone sem fio estão aproximando de forma ainda mais rápida as pessoas e os lugares em diferentes pontos do planeta.
Associados a essas novas informações, descobertas e facilidades, passaram também a fazer parte do dia-a-dia dos consumidores como os alimentos exóticos, plantados, preparados e comercializados em diferentes regiões da Terra.
Esse caminho sem retorno da sociedade humana pode ficar ameaçado se, ao mesmo tempo em que se busca uma melhor qualidade de vida, não for elaborada uma grande conscientização nacional e internacional para a proteção dos recursos naturais e das áreas cultivadas.
Os efeitos das perdas de pequenas frações de qualquer um desses segmentos serão devastadores por causa do aumento crescente da população humana. Exemplos de perdas e danos têm sido fornecidos pela mídia a todo o momento e em qualquer área do planeta. E ainda assim, numa visão simplista, acha-se que tudo está infinitamente à disposição do ser humano.
A 8a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 8) chamou a atenção para os problemas das espécies invasoras exóticas e os impactos que elas causam no meio ambiente e na economia dos países. A organização não-governamental, The Nature Conservancy, mostra dados alarmantes sobre os custos de erradicação e controle de organismos como vírus, insetos, ácaros, nematóides, bactérias, fungos, pequenos e grandes vertebrados, plantas infestantes, anfíbios, peixes, moluscos, plantas ornamentais, etc., que giram em torno de US$ 1,4 trilhão.
Vários exemplos podem ser dados sobre os efeitos das bioinvasões e as conseqüentes biopoluições provocadas pela introdução desses organismos em áreas onde antes não ocorriam, especialmente no Brasil, onde se encontra a mais importante biodiversidade do planeta. O país ainda possui abundância de água doce e de terras agriculturáveis e a mais importante agricultura tropical do mundo.
A mosca-da-carambola, Bactrocera carambolae, é um dos exemplos a ser dado de invasão com alto potencial econômico, social e ambiental. Ela foi introduzida no Amapá por volta de 1996. Ela é proveniente do Suriname, onde por sua vez foi introduzida no final da década de 80. A introdução da praga no Suriname ocorreu por causa do aumento no trânsito de pessoas e produtos vindos da Indonésia para as Américas.
Felizmente, a mosca-da-carambola continua contida no estado do Amapá devido à ação do Programa de Erradicação da Mosca-da-carambola, sob coordenação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Entretanto, deve-se estar atento para as pesquisas científicas que continuam a ser desenvolvida em países onde a praga ocorre, incluindo estudos sobre as espécies que compõem o complexo de espécies de moscas-das-frutas de Bactrocera dorsalis, do qual a mosca-da-carambola pertence.
Devido à confusão relativa à identificação morfológica do complexo de espécies de B. dorsalis e os respectivos hábitos de cada uma das espécies que compõem esse grupo, a lista de hospedeiros poderá ser alterada no futuro próximo bem como a expressão econômica que esse complexo de moscas-das-frutas apresenta.
Isto pode ser exemplificado por B. carambolae que é uma praga muito séria de carambola atacando os frutos nos primeiros estágios de formação. Esse hábito está fora do padrão do complexo de espécies de Bactrocera spp. porque o ataque geralmente ocorre quando as frutas estão maduras ou muito maduras. Ainda assim, B. carambolae ataca frutas nos estágios iniciais, de forma que o controle mecânico por meio de ensacamento torna-se ineficaz depois de introduzida em um pomar.
Além disso, no Brasil, os resultados da pesquisa científica realizada por meio da avaliação de frutos hospedeiros da praga apontam que no estado do Amapá, a goiaba é o hospedeiro preferencial quando se compara com a carambola, tornando ainda mais sério o problema já que a goiabeira pode ser encontrada em fundos de quintais nas cidades brasileiras. De acordo com estudos de pesquisadores brasileiros, além das perdas no campo, a interrupção das exportações de frutas frescas causadas pela presença da mosca pode levar o Brasil a ter prejuízos da ordem de US$ 60 milhões apenas no primeiro ano de dispersão da praga, caso ela venha a se estabelecer em áreas de produção de goiaba, carambola, manga, acerola, citros, banana, etc.
Além dessa espécie invasora exótica introduzida no país, um outro exemplo a ser dado de bioinvasão refere-se a Achatina fulica, vulgarmente conhecida como o caramujo gigante africano, considerada como uma das espécies de caramujos terrestres mais nocivas do mundo e que está se dispersando de forma rápida em várias regiões do planeta. Esse caramujo se alimenta de, pelo menos, 500 tipos de plantas como a fruta-pão, mandioca, cacau, mamão, amendoim, seringueira, feijão, ervilha, pepino, melão, abóbora, repolho, alface, batata, cebola, girassol, eucalipto e citros, plantas ornamentais, entre vários outras.
O caramujo africano pode sobreviver em condições climáticas de baixas temperaturas, incluindo neve, período no qual ele hiberna e até em temperaturas tropicais e regiões áridas. Cada fêmea é capaz de colocar até 1.200 ovos por ano, sendo que o adulto tem uma vida média de 6 a 9 anos.
Relatos do Serviço de Inspeção e Sanidade Animal e Vegetal (APHIS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mostram que, em 1966, três caramujos africanos, trazidos clandestinamente por um garoto, do Havaí, foram liberados em um jardim em Miami, na Flórida. Em um período de sete anos, esses três organismos reproduziram 18.000 indivíduos, o que levou aquele estado a implementar um programa de erradicação no valor de US$ 1 milhão.
O caramujo africano provoca impacto no meio ambiente, agropecuária e saúde humana. Ele é vetor das parasitoses, Angiostrongylus cantonensis e A. costaricensis. Esses parasitas são encontrados tanto interna como externamente (muco) no caramujo e podem ser adquiridos pelo ser humano ao se alimentarem de carnes mal cozidas ou pelo simples contato superficial ou ainda pela ingestão de verduras contaminadas pelo muco do caramujo. Indivíduos infectados já foram detectados fora da África, em ilhas indopacíficas, Japão e Tailândia. Interceptações de caramujos infectados têm sido feitas nos Estados Unidos, Cuba e Porto Rico.
De acordo com informações do Ministério da Saúde, a parasitose A. costaricensis não ocorre no Brasil. Esse parasita causa a meningoencefalite no homem. Apesar do caramujo africano já estar presente no país, indivíduo(s) infectado(s) com essa parasitose, provenientes de regiões infestadas, podem ainda ser introduzido(s) causando problemas sérios para a população brasileira.
O APHIS intercepta esses caramujos, freqüentemente, em aeroportos junto a passageiros que tentam introduzi-los no país para comercializá-los como animais de estimação ou serem consumidos como carnes ou ainda como remédios caseiros alternativos. Um problema freqüente é quanto à entrada de pequenas quantidades de carnes do caramujo trazidos por parentes em viagens à África ou Ásia “como forma de diminuir a saudade de casa”.
Além de uma cuidadosa orientação aos passageiros aéreos para não trazerem esses organismos ao país, uma inspeção acurada em cargas de navios ou de aeroportos, produtos vegetais, maquinários e motores de veículos, provenientes de locais onde ocorrem o caramujo africano deve ser realizada pelas autoridades sanitárias brasileiras. Ovos e conchas podem ficar fora do alcance da vista e passar despercebidos. Caramujos hibernantes podem parecer mortos e serem levados por colecionadores de conchas. As vantagens de uma inspeção cuidadosa podem ser expressas na ausência do caramujo infectado pela parasitose, A. costaricensis.
Os exemplos dados acima e outras pragas e enfermidades foram responsáveis por um aumento na biopoluição e as conseqüências advindas dessas introduções e dispersões no território brasileiro. De acordo com dados publicados por pesquisadores internacionais os impactos das bioinvasões no Brasil atingiram US$ 42,6 bilhões, nas últimas décadas.
Ao invés de gastos para a erradicação ou contenção ou controle destes organismos, esses recursos poderiam ter sido investidos em educação, saúde e inovação tecnológica para a população brasileira. É importante que a sociedade brasileira fique atenta a esses fatos e tome consciência da importância em diminuir as bioinvasões, exigindo dos governos federal, estadual e municipal, ações mais rápidas, coerentes e integradas para o combate de organismos que entram no país e depois se dispersam para regiões socioeconômica e ambientalmente importantes. Essas bioinvasões provocam perdas de empregos, de qualidade de vida, de propriedades, dos recursos naturais e de áreas produtivas. Num futuro bem próximo poderemos deixar de ser o tão propagado “celeiro do mundo”. Afinal quem paga e pagará a conta das bioinvasões e suas conseqüentes poluições é o próprio cidadão brasileiro.

Fonte:http://www.embrapa.br/imprensa/artigos/2006/artigo.2006-11-23.6873159689/
Bióloga, Doutora, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Cx. Postal 02372, Brasília, DF, Brasil. Email: reginavilarinho@cenargen.embrapa.br
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Boa sorte!

Um abraço, Helena Rezende

O DESPERDÍCIO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

A quantidade de entulho gerado nas construções que são realizadas nas cidades brasileiras demonstra um enorme desperdício de material. Os custos deste desperdício são distribuídos por toda a sociedade, não só pelo aumento do custo final das construções como também pelos custos de remoção e tratamento do entulho.

Na maioria das vezes, o entulho é retirado da obra e disposto clandestinamente em locais como terrenos baldios, margens de rios e de ruas das periferias. As prefeituras comprometem recursos, nem sempre mensuráveis, para a remoção ou tratamento desse entulho: tanto há o trabalho de retirar o entulho da margem de um rio como o de limparr galerias e desassorear o leito de córregos onde o material termina por se depositar.

O custo social total é praticamente impossível de ser determinado, pois suas conseqüências geram a degradação da qualidade de vida urbana em aspectos como transportes, enchentes, poluição visual, proliferação de vetores de doenças, entre outros. De um jeito ou de outro, toda a sociedade sofre com a deposição irregular de entulho e paga por isso. Como para outras formas de resíduos urbanos, também no caso do entulho o ideal é reduzir o volume e reciclar a maior quantidade possível do que for produzido.

A quantidade de entulho gerada nas cidades brasileiras é muito significativa e pode servir como um indicador do desperdício de materiais. Os resíduos de construção e demolição consistem em concreto, estuque, telhas, metais, madeira, gesso, aglomerados, pedras, carpetes etc. Muitos desses materiais e a maior parte do asfalto e do concreto utilizado em obras podem ser reciclados. Esta reciclagem pode tornar o custo de uma obra mais baixo e diminuir também o custo de sua disposição.

Note-se ainda que a demanda por habitação de baixo custo também torna interessante a viabilização de materiais de construção a custos inferiores aos existentes, porém sem abrir mão da garantia de qualidade dos materiais originalmente utilizados. Desta forma, o intuito do estudo, cujos resultados parciais são apresentados aqui, é o desenvolvimento de técnicas que garantam a qualidade de elementos construtivos produzidos com agregado derivado de entulho a custos inferiores aos agregados primários.

Os estudos realizados com vistas ao emprego de agregados de entulho na fabricação de elementos de concreto dentro das condições de fabricação (traços) já utilizados na prefeitura da Universidade de São Paulo permitiram atingir as seguintes conclusões, para as amostras ensaiadas:

  • a reciclagem de entulho para os fins visualizados é viável;

  • os parâmetros de resistência à tração e flexão dos elementos de concreto com entulho são semelhantes e chegam a superar aqueles obtidos para elementos de concreto feitos com agregado primário;

  • os parâmetros de resistência à compressão do concreto de entulho podem atingir valores compatíveis ao concreto com agregado primário.



    Reciclagem

    Apesar de causar tantos problemas, o entulho deve ser visto como fonte de materiais de grande utilidade para a construção civil. Seu uso mais tradicional - em aterros - nem sempre é o mais racional, pois ele serve também para substituir materiais normalmente extraídos de jazidas ou pode se transformar em matéria-prima para componentes de construção, de qualidade comparável aos materiais tradicionais.

    É possível produzir agregados - areia, brita e bica corrida para uso em pavimentação, contenção de encostas, canalização de córregos, e uso em argamassas e concreto. Da mesma maneira, pode-se fabricar componentes de construção - blocos, briquetes, tubos para drenagem, placas.

    As prefeituras devem iniciar a implantação de um programa fazendo um levantamento da produção de entulho no município, estimando os custos diretos e indiretos causados pela deposição irregular. Com base nestas informações será possível determinar a tecnologia a ser empregada, os investimentos necessários e a aplicação dos resíduos reciclados.

    A reciclagem de entulho pode ser realizada com instalações e equipamentos de baixo custo, apesar de existirem opções mais sofisticadas tecnologicamente. Havendo condições, pode ser realizado na própria obra que gera o resíduo, eliminando os custos de transporte. É possível contar com diversas opções tecnológicas, mas todas elas exigem áreas e equipamentos destinados à seleção, trituração e classificação de materiais. As opções mais sofisticadas permitem produzir a um custo mais baixo, empregando menos mão-de-obra e com qualidade superior. Exigem, no entanto, mais investimentos e uma escala maior de produção. Por estas características, adequam-se, normalmente, as cidades de maior porte.

    A construção civil é atualmente o grande reciclador de resíduos provenientes de outras indústrias. A escória granulada de alto forno e cinzas são matéria prima comum nas construções.



    Coleta do Entulho

    Para resolver o problema do entulho é preciso organizar um sistema de coleta eficiente, minimizando o problema da deposição clandestina. É necessário estimular, facilitando o acesso a locais de deposição regular estabelecidos pela prefeitura.

    A partir de uma coleta eficaz é possível introduzir práticas de reciclagem para o reaproveitamento do entulho. Para cidades maiores, é importante que a coleta de entulho seja realizada de forma desconcentrada, com instalações de recebimento de entulho em várias regiões da cidade.

    Em contrapartida, é preciso lembrar que a concentração dos resíduos torna mais barata a sua reciclagem, reduzindo os gastos com transporte, que, em geral, é a questão mais importante num processo de reciclagem. Estabelecer dias de coleta por bairro, onde a população pode deixar o entulho nas calçadas para ser recolhido por caminhões da prefeitura é uma prática já adotada em alguns municípios.

    A política de coleta do entulho deve ser integrada aos demais serviços de limpeza pública do município. Pode-se aproveitar programas já existentes ou, ao contrário, a partir do recolhimento de entulho implantar novos serviços como a coleta de "bagulhos" (por exemplo, móveis usados) que normalmente têm o mesmo tipo de deposição irregular e tão danosa quanto o entulho.

    Mas o entulho surge não só da substituição de componentes pela reforma ou reconstrução. Muitas vezes é gerado por deficiências no processo construtivo: erros ou indefinições na elaboração dos projetos e na sua execução, má qualidade dos materiais empregados, perdas na estocagem e no transporte. Estes desperdícios podem ser atenuados através do aperfeiçoamento dos controles sobre a realização das obras públicas e também através de trabalhos conjuntos com empresas e trabalhadores da construção civil, visando aperfeiçoar os métodos construtivos, reduzindo a produção de entulho e os desperdícios de material.

    No Brasil, entretanto, o reaproveitamento do entulho é restrito, praticamente, à sua utilização como material para aterro e, em muito menor escala, à conservação de estradas de terra. A prefeitura de São Paulo, em 1991, implantou uma usina de reciclagem com capacidade para 100 t/hora, produzindo material utilizado como sub-base para pavimentação de vias secundárias, numa experiência pioneira no Hemisfério Sul.

    Estima-se que a construção civil seja responsável por até 50% do uso de recursos naturais em nossa sociedade, dependendo da tecnologia utilizada. Sabe-se também que, na construção de um edifício, o transporte e a fabricação dos materiais representam aproximadamente 80% da energia gasta.



    Diferentes Aplicações

    As propriedades de certos resíduos ou materiais secundários possibilitam sua aplicação na construção civil de maneira abrangente, em substituição parcial ou total da matéria-prima utilizada como insumo convencional. No entanto, devem ser submetidos a uma avaliação do risco de contaminação ambiental que seu uso poderá ocasionar durante o ciclo de vida do material e após sua destinação final.

    Grandes pedaços de concreto podem ser aplicados como material de contenção para prevenção de processos erosivos na orla marítima e das correntes, ou usado em projetos como desenvolvimento de recifes artificiais. O entulho triturado pode ser utilizado em pavimentação de estradas, enchimento de fundações de construção e aterro de vias de acesso.
    Importante: em alguns países já há indicação das autoridades de saúde para cuidados a serem tomados quando da manipulação de asfalto, por existirem materiais potencialmente cancerígenos. É recomendado o uso de equipamento de proteção individual (EPI).



    Resultados

    Ambientais: Os principais resultados produzidos pela reciclagem do entulho são benefícios ambientais. A equação da qualidade de vida e da utilização não predatória dos recursos naturais é mais importante que a equação econômica. Os benefícios são conseguidos não só por se diminuir a deposição em locais inadequados (e suas conseqüências indesejáveis já apresentadas) como também por minimizar a necessidade de extração de matéria-prima em jazidas, o que nem sempre é adequadamente fiscalizado. Reduz-se, ainda, a necessidade de destinação de áreas públicas para a deposição dos resíduos.

    Econômicos:As experiências indicam que é vantajoso também economicamente substituir a deposição irregular do entulho pela sua reciclagem. O custo para a administração municipal é de US$ 10 por metro cúbico clandestinamente depositado, aproximadamente, incluindo a correção da deposição e o controle de doenças. Estima-se que o custo da reciclagem significa cerca de 25% desses custos. A produção de agregados com base no entulho pode gerar economias de mais de 80% em relação aos preços dos agregados convencionais.

  • www.ambientebrasil.com.br - Fonte(2004)