10 janeiro 2009

AS QUESTÕES DA ÁGUA NO CONFLITO ÁRABE - ISRAELENSE


RIO - Em vez do petróleo, a água gera a cobiça. Duas nações entram em guerra por causa desse "ouro incolor, inodoro e insípido". Um conflito armado dessa natureza pode levar anos para acontecer, mas muitos especialistas acreditam que a água, que já é vista por muitos como uma commodity, pode estar por trás de disputas pela sobrevivência de povos. A questão está em pauta até esta quarta-feira no Quarto Fórum Mundial de Água, realizado na Cidade do México.

- Não é insano pensar em um conflito armado por causa da água nos próximos 50 anos. Os palestinos em Gaza, por exemplo, não têm acesso à água segura. Eles dependem do abastecimento de Israel. As crianças naquela região estão bebendo água envenenada. Se isso levar a uma tensão alvez então teremos uma guerra por causa de água, focada no sofrimento que ocorre hoje em dia - disse com exclusividade por telefone ao GLOBO ONLINE Aaaron Wolf, professor de geociências, com especialidade em administração de recursos de água, da Universidade do Oregon, nos EUA, e um dos maiores nomes da área no mundo.

Os problemas não se limitam a árabes e judeus. Segundo Wolf, há atualmente um grande problema em ex-repúblicas soviéticas no Cáucaso por causa da de lagos e rios:

- Isso gera forte tensão sobre quem foi o responsável pelo problema e quem será o responsável por limpar. Também há crise quanto ao Mar de Aral, que está baixando de nível e em cuja região se discute o seu uso em uma só direção, a da exploração do gás natural. Rússia e China também vivem tensão por causa do Rio Obi. O mesmo se vê com o Rio Nilo, em uma rixa que envolve várias países.

Apesar de não descartar a idéia de um conflito armado, foi munido do otimismo de que uma guerra pode ser evitada que Wolf ajudou o Departamento de Estado americano a intervir nos conflitos envolvendo água entre árabes e israelenses. Hoje, diz ele, avanços significativos são observados no Rio Jordão, que é vital para a região desértica.

- Quando as pessoas pensam na escassez de água no planeta há que se considerar o aspecto físico e humano da crise, ou seja: pessoas sofrendo, morrendo, sendo degradadas. Isto é o que acontece agora e o que vai ficar pior no futuro. Não é o mesmo que o conflito político. Pessoas vão continuar a sofrer e a morrer. A qualidade da água vai piorar com o tempo. Acredito que temos que trabalhar mais duro sobre a questão do meio ambiente. Assim, não acredito na chegada da guerra - comentou o especialista, que morou durante oito anos no Oriente Médio, entre Israel, Jordânia e Egito. - Há uma ONG que põe judeus e árabes trabalhando juntos em defesa do Rio Jordão. Além disso, um projeto reúne israelenses, palestinos e jordanianos na tentativa de recuperação do Mar Morto, a fim de fazer com ele gere energia e forneça água para - acrescentou.

Apesar do intenso confronto entre palestinos e israelenses, Wolf diz que houve muitos avanços na cooperação entre as duas partes. Segundo ele, a parceria é a chave para atenuar os problemas de uma região desértica e assolada pelo fantasma de um conflito generalizado:

- Quando estourou a última Intifada (revolta palestina contra a ocupação de seus territórios por Israel), autoridades palestinas e israelenses do setor de água emitiram uma declaração em conjunto em defesa da cooperação na infra-estrutura aqüífera. A cooperação sobreviveu bem a toda a Intifada, a toda a tensão. Mesmo agora, Gaza continua recebendo água de Israel como parte do acordo.

Os sucessos no campo diplomático, explica Wolf, não se limitam ao conflito árabe-israelense.

- A cooperação é mais forte mesmo em regiões onde existe pesado conflito político. Na disputa entre Índia e Paquistão, um tratado assinado nos anos 60 sobreviveu a duas guerras entre os países. No calor do conflito a Índia e o Paquistão respeitaram suas obrigações quanto à água. Defendo que a água induza a uma maior cooperação de modo que os países não precisem adotar a agressão. Mas, claro, é um assunto delicado - afirmou o especialista.

As tensões provocadas por disputa de reservas aqüíferas são muitas, mas, contou Wolf, a única guerra realmente ligada a uma questão envolvendo água ocorreu na região entre os rios Tigre e Eufrates (onda atualmente estão o Iraque e a Síria). E isso foi há mais de 4.500 anos, entre as cidades-estados de Lagash e Umma. Outros especialistas argumentam que a guerra dos Seis Dias, em 1967, e a invasão do Líbano pelas forças israelenses, em 1982, tiveram a água como importante fator. No conflito dos anos 60, um dos motivos da ação militar israelense seriam informações secretas que apontavam que a Síria planejava desviar o Rio Jordão.

- O problema dessas teorias é a falta de provas. Na verdade, uma possível guerra não é questão que mais me preocupa. Isso na verdade desvia a atenção daquilo com que deveríamos nos ocupar. De 3,5 milhões a 5 milhões de pessoas morrem todo ano no mundo porque não têm acesso a água potável. Com uma destruição dessas a cada ano por que deveríamos falar de guerra? Prefiro acreditar que há como evitar. E trabalhar. Precisamos fazer com que as pessoas tenham acesso à água, precisamos tirar pessoas da pobreza e ajudá-las a proteger o - defendeu Wolf.

Fonte: Globo Online - 22/03/2006 - Autor: Fernando Moreira

09 janeiro 2009

O RIO DANÚBIO


Com sua nascente na Floresta Negra na Alemanha e desaguando no Mar Negro, o Rio Danúbio possui 2.850 km, contando na sua formação, ao longo de todo o seu curso, com 300 afluentes. Corta 9 países e é o mais importante Rio Europeu, depois do Rio Volga.
Potencialmente navegável em vários pontos de seu curso, ele atua também como fronteira geográfica de delimitação de diversos territórios, sendo, inclusive, usado como fronteira natural de dez países europeus. O rio corta importantes cidades européias tais como Ulm, Ingolstadt, Ratisbona, Linz, Viena, Bratislava, Budapeste, Novi Sad, Belgrado, Ruse, Braila e Galati.

Sua bacia abrange uma área de 795 686 quilômetros quadrados, sendo que dos seus 300 afluentes, os principais são os rios lller, Lech, Inn, Drava, Sava, Morava, Tisza e Prut. Os países que fazem parte da bacia do Danúbio são: Alemanha, Eslováquia, Croácia, Bulgária, Moldóvia, Áustria, Hungria, Servia, Romênia e Ucrânia.

É considerado, o Rio da nobreza européia, abrigando um riquíssimo acervo histórico nas suas veias, sobretudo em Viena, com o gênio de Strauss e outros luminares da música clássica, que o imortalizaram através da música. Sua riqueza histórica, traz ainda no o seu Vale, as lutas napoleônicas que aí se desenrolaram.

No sistema de transporte o rio Danúbio ocupa um lugar de destaque, pois é utilizado como um importante ponto de ligação entre distintos lugares dentro da Europa. Suas águas são importantes fontes de renda, uma vez que percorre diversas áreas de elevados níveis industriais e também importantes centros urbanos.

O Danúbio não é marcado somente pelo seu potencial econômico e logístico, mas também pelo elevado volume de poluentes que recebe ao longo de seu trajeto pelo continente que são oriundos de diferentes fontes desde resíduos urbanos( esgotos e outros), orgânicos, agrotóxicos e industriais. Hoje , despoluído, chega ao mar Negro formando um belíssimo delta. Além de um bonito labirinto de canais , há uma grande variedade de pássaros aquáticos e um refúgio de vida selvagem, em áreas pantanosas, que embelezam toda a ambiência, já em terras da Iugoslávia. O que contribui também para amenizar muito a poluição, é a sua foz que possui a capacidade de reter os poluentes, isso ocorre por causa da grande biodiversidade existente no local, principalmente por que se trata de uma das áreas de conservação da Europa.

O delta do Danúbio é um delta que tem uma área de 3750 km2 no litoral do Mar Negro, na divisa entre a Romênia e a Ucrânia.

O delta começa quando o rio Danúbio se divide em três braços: o Chilia (ao norte), o Sulina (no centro) e o mais meridional chamado Gheorghe, sendo que o braço Chilia faz a fronteira entre a Roménia e a Ucrânia.

As mais importantes cidades dessa região são Tulcea (no inicio do delta), Sulina (na da área costeira do delta e na desembocadura do braço de Sulina); no lado romeno e Izinaile e Kilia (ao longo da fronteira) no lado ucraniano.

Nesse delta situa-se a reserva de Sfântu-gheorghe-perisor-palade, que é considerada patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Um dos principais problemas que o delta tem que enfrentar é a poluição que o Danúbio sofre ainda devido ao vazamento de cianeto proveniente de minas de ouro romenas que atinge os afluentes do rio Tisza, este, um dos afluentes do Danúbio.

Existe na Europa, Comissões criadas para cuidar da sustentabilidade de vários rios. Para o Rio Danúbio, foi criada a Comissão Inernacional para a Protecção do Danúbio (ICPDR), que
trabalha para assegurar a utilização sustentável e equilibrada dos recursos de água doce e águas da bacia.

O trabalho da ICPDR é baseado na Convenção de Protecção do rio Danúbio, o principal instrumento jurídico para a cooperação transfronteiriça e de gestão dos recursos hídricos na bacia do Danúbio.

A Comissão Internacional para a Protecção do Rio Danúbio (ICPDR) é um órgão transnacional, que foi criado para implementar a Convenção de Protecção do rio Danúbio. O ICPDR formalmente é composta pelas delegações de todas as partes contratantes na Convenção de Protecção do rio Danúbio, mas também criou um quadro de outras organizações para a adesão.
Hoje delegados nacionais, representantes de mais alto nível ministerial, os peritos técnicos, e membros da sociedade civil e da comunidade científica na ICPDR cooperar para assegurar a utilização sustentável e equilibrada dos recursos hídricos na bacia do Danúbio.

Desde a sua criação em 1998, a promoção efectiva política ICPDR tem acordos eo estabelecimento de prioridades e estratégias conjuntas para melhorar o estado do Danúbio e dos seus afluentes.

Isto inclui a melhoria dos instrumentos utilizados para gerir as questões ambientais na bacia do Danúbio, tais como

* Acidente de Emergência do sistema de alerta
* O Trans-Rede Nacional de Monitoramento da qualidade da água, e
* O sistema de informação para o Danúbio (Danubis).

As metas da ICPDR

* Manutenção de Recursos Hídricos do Danúbio para a futura geração
* Naturalmente equilibrada águas livres por excesso de nutrientes
* Eliminar o risco de produtos químicos tóxicos
* Saudável e sustentável sistemas fluviais
* Dano livre de inundações

Os diferentes órgãos da ICPDR são:

Reunião Ordinária Grupo: tomar as decisões políticas
Grupo de Trabalho Permanente: fornecer uma orientação política
Os grupos de peritos técnicos: preparação dos documentos técnicos

O trabalho da ICPDR é apoiada por um secretariado localizado em Viena, Áustria.








Bibliografia: http://www.brasilescola.com/geografia/rio-danubio.htm; http://rvirginio.sites.uol.com.br/apoluicaodosrios.html; www.wikipedia.com; www.icpdr.org

07 janeiro 2009

A UNIÃO EUROPÉIA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

MUDANÇA CLIMÁTICA:
A União Européia pode ser mais verde, se quiser
David Cronin

Bruxelas, 09/10/2008, (IPS) - O resultado de uma votação-chave no Parlamento Europeu sobre como enfrentar a mudança climática não foi tão negativo quanto temiam os ambientalistas, mas também indica que a retórica dos políticos não tem relação direta com ações decisivas para enfrentar o aquecimento global.

Apesar das fortes pressões de representantes de indústrias que consomem grande quantidade de energia, os que buscavam diluir um pacote de propostas destinadas a reduzir as emissões de dióxido de carbono nos Estados-membros da União Européia, os legisladores decidiram na terça-feira manter o plano sem mudanças substanciais.

Um dos temas mais conflitivo foi o da magnitude da redução. No ano passado os governos europeus haviam se comprometido a reduzir em 20% as emissões de dióxido de carbono até 2020, em relação aos níveis de 1990. Mas essa meta aumentaria para 30% se outras grandes economias adotassem um objetivo semelhante. Embora a Comissão de Indústria do Parlamento Europeu tenha há pouco tentado evitar que essa redução de 30% fosse obrigatória, caso se chegasse a um acordo internacional na matéria, a Comissão de Meio Ambiente votou esta semana que a meta mais ambiciosa deverá ser aplicada automaticamente no caso de chegar-se a esse consenso.

Tomas Wyns, da Rede de Ação Climática, disse que essa decisão deriva em “um sinal animador” com vistas às conversações para se chegar a um acordo internacional, que acontecerão em dezembro, na cidade polonesa de Poznan, e no próximo ano em Copenhague. Além disso, Wyns pediu aos governos da UE que o “pacote” sobre temas ambientais e de energia que estão discutindo também consideram que em boa parte foram frustradas as tentativas para enfraquecer a planejada Agenda de Comércio de Emissões (ETS).

Sob esta agenda, os operadores industriais recebem autorizações de emissão por até certa quantidade de dióxido de carbono por ano. Se prevêem que excederão o permitido, podem comprar permissões adicionais no chamado “mercado de emissões”. Mas, se suas emissões reais são menores do que o autorizado, podem vender o excedente no “mercado” ou “economizá-las” para cobrir futuros excessos. Alguns membros do bloco de partidos de centro-direita no Parlamento Europeu, o mais numeroso, pressionaram para que essas autorizações sejam entregues gratuitamente. Porém, a maioria dos membros da Comissão de Meio Ambiente rejeitou essa idéia.

Todos os “créditos de carbono”, como são conhecidas essas permissões, serão vendidos em leilão até 2020. “Concedê-los sem custo, de maneira indefinida, seria prejudicar este aspecto central da legislação da UE sobre mudança climática, concedendo às indústrias grotescos lucros”, disse Caroline Lucas, líder do Partido Verde Britânico. Estima-se que o leilão de permissões de emissão renderá US$ 68 bilhões anuais até 2020. Alguns eurodeputados pediram que metade dessa quantia seja usada para ajudar os países pobres a enfrentarem a mudança climática.

A organização humanitária Oxfam apóia esta idéia: “Existe uma grande injustiça no impacto do aquecimento global”, disse Douwe Buzeman, do escritório de Bruxelas dessa organização não-governamental. “Os países ricos causaram o problema, após décadas de emissões de gases que provocam o efeito estufa, mas os pobres serão os mais afetados e enfrentarão maiores secas, inundações, doenças e fome”, acrescentou. Os ambientalistas também afirmam que a votação de terça-feira no Parlamento Europeu não atendeu temas fundamentais, particularmente em relação ao uso do carvão, a maior fonte de contaminação nas atividades de geração de energia.

Os eurodeputados recomendaram que seja fixado a partir de 2015 um teto de 500 gramas de emissões para cada quilowatt/hora gerado em centrais elétricas alimentadas com carvão. Para a organização ambientalista Greenpeace, trata-se de um passo atrás, já que atualmente as usinas desse tipo mais “limpas” emitem 350 gramas. Joris den Blanken, do Greenpeace, disse que “isto significa que centrais altamente contaminantes continuarão sendo construídas na UE. O carvão era sujo no século XIX e também o é hoje. A Europa deve se livrar das cadeias do passado e deixar de lado o carvão para salvar o meio ambiente”, acrescentou.

A Comissão de Meio Ambiente também recomendou que todas as novas usinas movidas a carvão a serem construídas na União Européia devem estar equipadas com tecnologia para capturar as emissões de carbono e armazená-las subterraneamente, em lugar de liberá-las na atmosfera. Os eurodeputados disseram que devem ser destinados US$ 13,6 bilhões para desenvolver a tecnologia necessária. Em 2007, os governos europeus prometeram financiar 12 projetos de armazenagem de carbono até 2015, mas nenhum foi construído até agora.

“Existe o potencial de se dar uma enorme contribuição à luta contra a mudança climática. Não podemos nos permitir mais demoras, nem mais construções de usinas convencionais alimentadas com carvão. É tempo de os ministros apoiarem suas palavras com algumas ações práticas”, disse o eurodeputado liberal Chris Davies. Entretanto, Blanken qualificou a “captura” como “uma aposta cara” e sugeriu que o dinheiro seria melhor gasto nos setores das energias solar e eólica.

Outra crítica feita à posição dos eurodeputados é que foi dada à UE uma ampla margem para reduzir indiretamente emissões contaminantes através do financiamento do “desenvolvimento limpo” em outros países, em lugar de melhorar o desempenho ambiental dentro das fronteiras do bloco regional. Delia Villagrasa, do Fundo Mundial para a Natureza, disse que “a ciência nos indica que os países ricos devem reduzir suas emissões entre 25% e 40%. Mas, devido ao voto da Comissão de Meio Ambiente,. Os países e as indústrias da Europa, comprando créditos de emissão no exterior, podem compensar cerca de um terço dos esforços que deveriam realizar, mas sem a garantia de que seguirão sólidos critérios ambientais e sociais”, afirmou. (IPS/Envolverde)

(FIN/2008)

06 janeiro 2009

AS CRIAÇÕES DE SALMÃO E O SEU PREJUÍZO PARA O ECOSSISTEMA

Foto retirada da Internet - Fazenda de Salmão no Chile

BIODIVERSIDADE:
O preço real das fazendas de salmão
Stephen Leahy

Uxbridge, Canadá, 13/11/2008, (IPS) - A salmonicultura está devastando os oceanos.

Uma coalizão internacional integrada por cientistas, aborígines canadenses e operadores turísticos exige uma moratória mundial para esta prática. “Vimos um colapso regional de toda a vida marinha nos 20 anos transcorridos desde que foram instaladas as fazendas de salmão”, disse Bob Chamberlin, da Primeira Nação Canadense dos Kwicksutaineuk Ah-kwa-mish, na província canadense de Columbia Britânica. “Só posso sacudir a cabeça com perplexidade diante do fato de se permitir que isto continue”, afirmou Chamberlin à IPS desde a ilha de Gilford, no arquipélago de Brouthton, onde operam 20 estabelecimentos salmoneiros.

Os estudos científicos vinculam as graves reduções nas populações de salmão silvestre na Columbia Britânica com as doenças e os parasitas que se originam nas fazendas salmoneiras em oceano aberto. No Chile, milhões de salmões não nativos escapam dos criadouros feitos com redes e se convertem em espécies invasoras, transformando a ecologia dos sistemas fluviais locais. Estas e outras práticas insustentáveis violam o Código de Conduta para a Pesca Responsável, da Organização das Nações Unidas, diz uma coalizão integrada por Canadá, Chile, Escócia, Irlanda e Noruega, que apresentou uma declaração internacional junto à ONU exigindo uma moratória global.

Não existe um debate real sobre os efeitos da aqüicultura dedicada ao salmão. São necessários três quilos ou mais deste peixe silvestre para produzir um quilo de salmão em criadouro. Habitualmente, os fundos oceânicos sob e em volta das redes em oceano aberto carecem totalmente de vida, enterrada sob os excrementos de ate um milhão de salmões. “As ‘sombras’ das criações podem se estender por três ou quatro quilômetros, dependendo da corrente”, disse Wolfram Heise, diretor do programa de conservação marinha na Fundação Pumalín, uma iniciativa de conservação privada no Chile.

Estas sombras são zonas mortas onde não há nada mais além de lodo e fezes ao longo do fundo oceânico. “Os níveis de oxigênio na água estão tão esgotados que às vezes isto obriga os estabelecimentos a mudarem de lugar”, disse Heise à IPS desde Puerto Varas, mil quilômetros ao sul de Santiago. No Chile custa apenas US$ 100 alugar outra concessão de fazenda salmoneira que dê aos proprietários, principalmente noruegueses, um controle indefinido sobre a região, incluído o leito marinho. Em menos de 15 anos, o Chile se converteu no maior produtor mundial de salmão, com cerca de 700 estabelecimentos, afirmou.

Quase todos os salmões atlânticos criados ali são vendidos para alimentar apetites de japoneses, norte-americanos e europeus. Mas os verdadeiros custos destas fazendas industriais flutuantes são ignorados pela indústria e pelo governo chileno e desconhecidos do público, disse Heise. Como ocorre nas fazendas industriais em terra, onde se cria muitos animais em espaços reduzidos, aos peixes é dada fortes doses de antibióticos e hormônios. Apesar disto, um potente vírus arrasou os criadouros do Chile no ano passado, reduzindo a produção pela metade.

Incapazes de deter a epidemia, os estabelecimentos simplesmente se mudaram para outros lugares, a centenas de quilômetros de distância, abandonando seus empregados locais e também as águas contaminadas, bem como o leito marinho. “Aqui não há nenhuma pesquisa para ver se o vírus está tendo um impacto sobre as espécies marinhas”, ressaltou Heise. No Chile não existe salmão nativo, mas Heise disse que foram encontrados alguns peixes costeiros com sintomas semelhantes ao vírus da anemia infecciosa dos salmões. “Seria surpreendente o vírus não afetar outras espécies”, disse à IPS.

Milhões de salmões escaparam do Chile e estão comendo outras espécies. Começaram a invadir rios e lagos, tão distantes quando os da vizinha Argentina, onde não há fazendas de salmão. De novo, há pouca pesquisa sobre os impactos da fuga de salmões e a indústria nega que exista um problema, afirmou Heise. Os salmões se converteram no segundo produto de exportação do Chile. O governo vê isto como uma “maquina de fazer dinheiro”, e o crescimento econômico tem prioridade sobre os demais, acrescentou, ressaltando que “ninguém mede os impactos coletivos, os enormes danos” causados.

Na costa oeste do Canadá, cientistas vincularam a redução das reservas de salmão com os mais de cem criadouros da região. Após publicar sua pesquisa na prestigiosa revista Science, os biólogos marinhos alertaram que uma espécie de salmão silvestre se extinguirá ate 2011, por causa da infestação de parasitas que tem origem nos estabelecimentos que criam salmão. Mais de 80% do salmão rosado produzido anualmente no arquipélago de Broughton, 300 quilômetros ao norte da cidade de Vancouver, morreram por causa destes parasitas desde 2001.

As fazendas salmoneiras “são como um câncer, destruindo o ecossistema em que se encontram”, disse Alexandra Morton, bióloga canadense que fez boa parte das pesquisas sobre os impactos da indústria. A costa noroeste da América do Norte é o lar de varias espécies de salmão silvestre que constituem uma das maravilhas naturais do mundo e são uma parte-chave do ecossistema costeiro. Após passar dois anos ou mais se alimentando em oceano aberto, regressam às suas correntes e rios natais para desovar e morrer.

Muitas espécies, como águias, ursos e lobos, se alimentam dos salmões agonizantes ou mortos. Também levam grandes quantidades de carcaças de salmão para as florestas, que se decompõem, enriquecendo o solo e servindo de alimento para muitas plantas, incluindo os gigantes cedros vermelhos e os abetos de Sitka da região. Foram encontrados nutrientes do salmão dentro das folhas situadas nas copas das arvores de dois mil anos. “O turismo de floresta na Columbia Britânica vale US$ 1,6 bilhão anuais, e o salmão silvestre age contra tudo isto”, disse Morton em uma entrevista. O salmão produto da aqüicultura vale menos de US$ 500 milhões no Canadá, e é dominado por empresas norueguesas.

A indústria está matando o componente crucial das florestas da Columbia Britânica, que poderia ser uma das maiores fontes de proteínas se administrada de maneira adequada, disse Morton. “A costa oeste poderia produzir grandes quantidades de peixes, como já fez algum dia”, acrescentou. Há aproximadamente um ano, um informe do governo da Columbia Britânica recomendou passar aos sistemas de contensão fechada para a criação de salmões, mas a indústria se opôs duramente. As empresas norueguesas dominam a multimilionária indústria, e a Noruega possui grandes operações nessa província.

Entretanto, os poucos sistemas fluviais com salmões silvestres que restam na Noruega são rigidamente protegidos, e as operações de aqüicultura são localizadas bem longe, ao contrário do Canadá. “Eles entraram em meu território e negaram, adiaram, nos distraíram de verdade por 20 anos, sem consideração por seu impacto sobre o meio ambiente e sobre meu povo”, disse Bob Chamberlin. Este e outros líderes nativos tentaram por vários anos conseguir que empresas norueguesas como Marine Harvest, principal companhia mundial de produtos do mar, passasse a um sistema de contenção fechada, sem sucesso.

Marine Harvest produziu 340 mil toneladas de salmão em 2007 e reconheceu muitos destes problemas. Em abril deste ano, a companhia concordou em trabalhar como Fundo Mundial para a Natureza (WWF) para encontrar maneiras a fim de reduzir seu impacto ambiental. “É muito pedir que firmas com Marine Harvest protejam nosso meio ambiente?”, perguntou José Villalón, por muito tempo gerente dessa companhia e que no ano passado uniu-se à WWF como diretor de seu programa de aqüicultura. (IPS/Envolverde)

(FIN/2008)

Fonte: http://mwglobal.org