27 abril 2008

O MAIOR FOCO DE POLUIÇÃO DO MUNDO: UMA NUVEM QUE SE ESTENDE SOBRE UMA SUPERFÍCIE EQUIVALENTE A DOS EUA


Só na Índia cerca de 500 mil mortes prematuras foram provocadas por esta poluição Christiane Galus escreve para 'Le Monde':Todos os anos, de abril a outubro, gigantesca nuvem de poluição paira sobre o sul da Ásia, sobre vasta área que se estende do Paquistão até a China, passando pela Índia. Ela resulta do desenvolvimento demográfico e econômico acentuado que esses países conheceram no decorrer das últimas décadas. Diante das preocupações que esta nuvem anda causando, o Programa das Nações Unidas para o meio ambiente (cuja sigla em inglês é Unep) analisou os prováveis efeitos desta imensa concentração de neblina sobre uma população que é hoje de 2 bilhões de indivíduos (o terço da população mundial) e deverá ser de 5 bilhões dentro de 30 anos. A entidade acaba de publicar sobre este tema um relatório, intitulado 'A Nuvem parda asiática e suas conseqüências sobre o clima e o meio ambiente'.Essa poluição constituída por aerossóis sulfurados, óxido de carbono, ozônio, óxidos de azoto, fuligem e poeiras de diversas naturezas, tem por efeito direto reduzir em cerca de 10% a quantidade de energia solar que alcança o solo, além de diminuir as quantidades de chuvas entre 20% e 40%, conforme as regiões. Com efeito, as partículas em suspensão inibem a formação das grandes precipitações atmosféricas. Além disso, os aerossóis diminuem também a produtividade agrícola ao enfraquecer a luz solar necessária para a fotossíntese das plantas.Essa nuvem tem também um forte impacto sobre a saúde das populações locais. Durante os anos 90, dezenas de milhares de mortes prematuras ocorridas anualmente, nas grandes aglomerações, lhe foram atribuídas. A prazo, a amplidão desta poluição, que se desloca durante o inverno acima do oceano Índico, é tamanha que ela poderá ter repercussões mundiais. 'Ao modificar as relações naturais entre o oceano e a atmosfera em toda a região do oceano Índico e ao causar transtornos na circulação atmosférica em grande escala, ela poderá ter um impacto direto sobre o fenômeno El Niño e sobre a zona tropical', explica Jean-Philippe Duvel, um climatologista do laboratório de meteorologia dinâmica da École Normale Supérieure, em Paris. Em 99, os 200 cientistas que participam do programa internacional para o oceano Índico (Indoex - Indian Ocean Experiment) deram o sinal de alerta. O objetivo era de chamar a atenção da comunidade internacional para a enorme 'nuvem parda' que paira acima do sul asiático durante vários meses, todos os anos. Após terem implementado uma quantidade considerável de meios técnicos, seja no ar, seja no mar, e gastado um total de US$ 25 milhões, eles acabaram colocando em evidência 'o maior foco de poluição do mundo: uma nuvem que se estende sobre uma superfície equivalente a dos EUA, dotada de uma espessura variando entre 2 e 3 quilômetros'. Esta nuvem não fica parada numa mesma área. O seu deslocamento tem correlações profundas com as evoluções das monções. Durante a monção de inverno (de outubro a dezembro), a poluição deriva ao sabor dos ventos, seguindo uma direção geral de norte a sul, mas que nunca desce aquém de 10º de latitude sul. Lá, uma parte da poluição é 'lavada' pelas chuvas diluvianas que têm por origem as enormes nuvens cúmulo-nimbos da zona de convergência intertropical situada à altura do equador. Já, o restante é aspirado para as alturas e dilui-se em meio à circulação atmosférica geral. As partículas de aerossóis situadas a 3 km de altitude podem então se deslocar pela metade do globo em uma semana. Durante o verão (de abril a outubro), o ar poluído permanece estagnado acima do continente, onde ele continua exercendo os seus efeitos nocivos até que ele seja também 'lavado' pela monção de verão. Os especialistas das Nações Unidas reconhecem que 'a ciência ainda não passou do primeiro estágio da compreensão no que diz respeito às alterações climáticas regionais'. Além disso, eles precisam que o seu relatório é o resultado de um estudo limitado, uma vez que ele diz respeito principalmente à temporada de seca que dura de dezembro a abril. No entanto, eles estimam que essa nuvem poluidora de origem antrópica (isto é, que foi produzida pela ação do homem, no caso pela combustão de lenha de cozinha e de aquecimento, por queimadas e pela fumaça gerada pelo óleo diesel doméstico, um combustível utilizado por um grande número de indivíduos) terá efeitos muito graves para a saúde de bilhões de pessoas que vivem na região asiática, se nada for feito para deter a sua expansão.Uma vez que grande parte dessa população já está vivendo dentro de condições de sobrevivência precárias e de extrema pobreza, essa gigantesca poluição deverá tornar nos próximos 30 anos essa situação ainda mais precária. A população local alcançará então o número de 5 bilhões, e terá de enfrentar efeitos de distúrbios climáticos e ambientais de extrema gravidade. Com efeito, a poluição deverá engendrar uma importante modificação do regime das chuvas (diluvianas ou ausentes, conforme as regiões), além de redução sensível da produtividade agrícola, num momento em que seria preciso, pelo contrário, aumentá-la, assim como inúmeras desordens sanitárias.Assim, os estudos que avaliam as correlações entre o oceano e a atmosfera prevêem a ocorrência de uma perturbação 'substancial' do ciclo hidrológico, ligada à nuvem parda. Com isso, na zona intertropical, numa faixa que se estende entre a latitude 20 graus norte e a latitude 20 graus sul, a evaporação e as precipitações atmosféricas diminuem de 1% a 2%. Já, na zona do sudeste asiático, o efeito é ainda mais acentuado. Ocorre uma redistribuição das chuvas, com um aumento de 20% a 40% em certas regiões, e uma redução na mesma proporção em outras. A diminuição das precipitações atmosféricas poderá atingir os países da faixa subtropical, os quais incluem o noroeste da Índia, o Paquistão, o Afeganistão e os países próximos da região oeste da Ásia central.Essa evolução é ainda mais preocupante quando se sabe que as chuvas de inverno sobre o noroeste da Índia fornecem entre 20% e 40% das precipitações atmosféricas anuais. Essa taxa alcança entre 50% e 70% para o norte do Paquistão, o Afeganistão e o oeste da Ásia central. A irrigação não poderá mais suprir a essa penúria, o que resultará numa diminuição da produtividade dos cultivos de cereais. Por exemplo, a produtividade das plantações de arroz poderá diminuir de 5% a 10%. Este problema se somaria à diminuição dos rendimentos resultando da desaceleração da fotossíntese. A tudo isso, é preciso acrescentar os efeitos sanitários produzidos por essa poluição. Esta deverá causar doenças respiratórias, e atingir principalmente as pessoas mais vulneráveis: as crianças e os idosos. Assim, em cada uma das cidades de mais de 1 milhão de habitantes na Índia, as taxas de ar poluído estão muito acima das normas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde. Estima-se que, somente na Índia, cerca de 500 mil mortes prematuras foram provocadas por esta poluição. Foram constatadas concentrações de casos de problemas respiratórios sérios em Calcutá, Deli, Lucknow, Bombaim, Ahmedabad et em vários países do sudeste asiático, inclusive na China, na Tailândia e na Coréia.

Fontes: (Tradução: Jean-Yves de Neufville) (Le Monde, Uol.com/Mídia Global, 15/8)
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=4114

2 comentários:

  1. Adoro vir aqui, ao mesmo tem´po choro, seu blog é importantissimo para nós simples humanos. Aproveito para dizer que fiz uma postagem nova, se tiveres tempo apareça por lá, será muito bem vinda
    marthacorreaonline.blogspot.com

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  2. Obirgada, Martha, pela visita!
    Realmente, é algo de entristecer muito, ler e ouvir todos os dias, notícias de catástrofes que afetam o Planeta Terra.

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