13 agosto 2008

A NATUREZA TEM PREÇO?


É possível estimar um valor monetário para a natureza?

Por Antonio Cristiano Vieira Cegana e Leonardo Barros Jianoti*

Atualmente essa é uma das perguntas mais freqüentes que intrigam ambientalistas e economistas de plantão. Em 2000, um grupo de pesquisadores liderados por Robert Constanza publicou na conceituada Revista Nature um artigo que estimava valores monetários para as áreas naturais ainda conservadas em todo mundo. Que valor era esse? Simplesmente 33 trilhões de dólares, valor que representa 82% do valor de tudo que foi produzido no mundo em 2005 (PIB Mundial**).
Eles se basearam no conceito de bens e serviços ecossistêmicos e quanto aquilo custaria se tivesse que ser fornecido artificialmente. Por serviços ecossistêmicos entendem-se funções desempenhadas pelos ecossistemas e que nos trazem benefícios direta e indiretamente. Estes incluem serviços de abastecimento, como comida, água, madeira e fibra; de regulação, como efeitos do clima, enchentes, doenças, secas e qualidade da água; culturais, provendo recreação, benefícios estéticos e espirituais; e de suporte, como formação do solo, fotossíntese e ciclo dos nutrientes.
Segundo o estudo, a valoração é dada pelo efeito substituição, ou seja, quanto custaria um regulador climático tão eficiente quanto o que a Terra oferece através das florestas?
Considerando essa questão, é mais inteligente preservar nossas áreas naturais (e conseqüentemente seus bens e serviços ecossistêmicos) do que desmatar e utilizar o recurso no curto prazo.
Nessa linha de raciocínio, a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza lançou o Projeto Oásis que visa proteger os mananciais responsáveis pelo abastecimento de aproximadamente 4 milhões de pessoas da cidade de São Paulo utilizando uma ferramenta de forte apelo econômico: pagamentos por serviços ecossistêmicos.
O Projeto investe na proteção dos mananciais realizando pagamentos aos proprietários que se comprometem a conservar suas áreas naturais. Por meio de contratos de premiação por serviços ecossistêmicos, as propriedades são semestralmente monitoradas para garantir a qualidade ambiental dos fragmentos.
Entre os maiores desafios estão a dificuldade em encontrar áreas com remanescentes florestais em boa qualidade e a ainda instigante valoração econômica dos serviços ecossistêmicos prestados pelas áreas naturais.
Nesse projeto o valor foi referenciado nos serviços prestados pela área natural preservada em relação ao: i) armazenamento de água (R$99,00/hectare/ano); ii) manutenção da qualidade da água (R$75,00/hectare/ano); e, iii) controle de erosão (R$196,00/hectare/ano), totalizando R$370,00/hectare/ano.
Atualmente, são 9 propriedades contratadas que, somadas, correspondem a 332,4 ha de vegetação nativa protegida. Esses resultados preliminares apontam para o importante papel que programas de pagamentos por serviços ecossistêmicos podem assumir na complementação de políticas públicas de conservação de áreas naturais.
Essas iniciativas demonstram a crescente maturidade do movimento ambientalista mundial, seja pelas ONGs, empresas ou governos. Ao mesmo tempo, os serviços ecossistêmicos mostram uma grande e promissora forma de diálogo entre economia e meio ambiente, onde todos serão beneficiados.
* Engenheiro Agrônomo, M. Sc Antonio Cristiano Vieira Cegana – Analista de Projetos Ambientais da Fundação O Boticário de Proteção a NaturezaEconomista, Leonardo Barros Jianoti - Analista de Projetos Ambientais da Fundação O Boticário de Proteção a Natureza
** Indicador: PIB Mundial 2005 – Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU – 2006 – http://www.pnud.org.br/

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