04 dezembro 2008

OS EFEITOS DA REUTILIZAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA EM GRANDE ESCALA



AMBIENTE-AUSTRÁLIA:
Água da chuva para minimizar a seca


Melbourne, 14/11/2008, (IPS) - Grandes áreas do sul e leste da Austrália sofrem por causa da seca.

Enquanto isso, a localidade de Orange, 260 quilômetros a oeste de Sidney, desenvolve o primeiro programa para recolher água da chuva neste país. O projeto “esta desenhado inicialmente como uma resposta de emergência, porque não tínhamos uma fonte alternativa que pudéssemos lançar mão rapidamente”, disse à IPS o diretor de serviços técnicos do conselho de Orange, Chris Devitt. Devitt explicou que, como o projeto Coleta de Água de Chuva do Riacho Pantanoso Blackmans oferece uma “solução bastante rápida” para a crise hídrica de Orange, o conselho quer convertê-lo em permanente para atacar as conseqüências da seca. As duas reservas de Orange estão coberta em 40,5% de sua capacidade, e no começo de setembro estiveram em 27%, após a estação das chuvas.

No último dia 5, um comunicado sobre a seca emitido pelo Centro Nacional do Clima (NCC) do Escritório de Meteorologia insinuou que as condições de seca se tornarão uma regra, mais do que exceção, na medida em que se concretizarem os efeitos da mudança climática. “A combinação de calor recorde e as secas generalizadas dos últimos cinco a 10 anos sobre grandes áreas da Austrália meridional e oriental não tem precedentes históricos e é, pelo menos em parte, um resultado da mudança climática”, disse o NCC. O plano de Orange envolve captação de água do riacho Blackmans, a nordeste do povoado, retirando-a e tratando-a antes de sua chegada à principal represa de água potável local.

Mas, apesar de os cerca de 40 mil moradores de Orange logo poderem contar com água disponível com a primeira coleta planejada para março de 2009, há preocupações em relação à qualidade. O povoado está submetido hoje às restrições hídricas de nível 5, que limitam severamente o uso da água nas casas, com multas de até dois mil dólares australianos (US$ 1.351) para quem não as cumprir. Os moradores expressaram seus pontos de vista sobre o projeto em um site (vinculado à página na Internet do próprio conselho) criado para tais efeitos.

Entre as preocupações apresentadas figura o fato de a água que flui por ruas, caminhos e parques não ser adequada para beber, embora uma maioria de 85,7% dos consultados em uma pesquisa divulgada no site digam estar felizes de beber água da chuva. Devitt afirmou que o conselho trabalha duro para convencer as pessoas de que a água será segura. Destacou que o conselho realizou um painel de dois dias com “várias autoridades do governo” e “agências ambientais”, entre elas os departamentos de saúde e de água e energia do governo do Estado de Nova Gales do Sul. “Como conseqüência, temos na prática processos bastante robustos para nos protegermos contra toda contaminação”, acrescentou Devitt.

Geolyse, consultora local que avaliou os fatores ambientais em nome do Conselho de Orange, espera que a água seja de alta qualidade. “Os dados disponíveis indicam que a qualidade esta água é melhor do que os valores habituais para as áreas de captação urbanizadas”, diz o informe preparado pela empresa Geolyse e divulgado em julho. Mas, embora tudo indique que a água, de fato, será segura para beber, os moradores que vivem corrente abaixo do Orange – entre eles agricultores e pastores que usam o riacho – se preocupam que a coleta de chuva tenha impacto negativo sobre eles.

“Estamos muito temerosos de que isto realmente restrinja nosso acesso aos fluxos hídricos, particularmente nos meses mais secos do ano, no verão”, disse o produtor de maçãs Ian Pearce, fazendo eco à preocupação dos irrigadores na bacia de Murray-Darling (a região agrícola mais importante da Austrália) em relação ao acesso à água. Embora sua plantação não fique defronte ao riacho, Pearce tem uma licença que o autoriza a bombear água para sua propriedade, que fica a cerca de um quilômetro.

Pearce vê esta água com sua “política de seguros”. Preferindo usar represas e água de poço em sua propriedade. “Mas nos últimos cinco ou seis anos, quando esteve terrivelmente seco, não chegou nenhum resíduo liquido às nossas represas, dependemos muito de nossa licença sobre o riacho para nosso fornecimento de água”, disse à IPS. A sua também é uma preocupação de que outros participantes também estejam conscientes. Embora Geolyse reconheça que o projeto de coleta de água de chuva “deve ter um impacto corrente abaixo”, alega que pode ser implementado “sem o risco de dano sério ou irreversível” para o meio ambiente.

“O desafio será administrar de modo adaptativo o uso do programa, para que este impacto não seja significativo e que as necessidades dos usuários que vivem corrente abaixo e do entorno aquático não sejam afetados”, disse o informe dos consultores apresentado em julho. O conselho – que financia o projeto de US$ 3,3 milhões junto com o governo estadual – também está ansioso para compensar esse mal-estar. Em um comunicado divulgado no mês passado o prefeito de Orange, Reg Kidd, afirmou que poderiam ser colhidos até 2.200 megalitros (equivalentes a mais de 200 dias de uso de água do povoado) dos 12 mil megalitros que, em média, fluem a cada ano pelo riacho.

“Limitar a coleta assegura que sejam mantidos os fluxos ambientais e que os usuários que vivem corrente abaixo, que dependem da água para subsistir, não sejam prejudicados”, disse o prefeito. Sua posição é apoiada pelo diretor técnico do conselho. “Suponho que a principal determinante é que o projeto somente coleta efetivamente quando há água excedente no riacho. Oitenta por cento do tempo o sistema do riacho vai operar como de costume”, disse Devitt.

Mas, embora Pearce não se oponha à coleta de água da chuva em si mesma, não está convencido de que o sistema do riacho Blackmans – que descreve como “já muito pressionado” – possa funcionar. “Podemos ver um mérito na coleta de água de chuva com conceito, mas nos opomos à maneira Comissão Européia se pretende que seja implementada, e realmente queremos ver um melhor regime de administração de todo o processo”, acrescentou.

Por Stephen de Tarczynski
(IPS/Envolverde) -http://mwglobal.org/ipsbrasil.net/nota.php?idnews=4299

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