13 junho 2008

AS DIFICULDADES E OS RISCOS DAS MUDANÇAS DE ANIMAIS E PLANTAS DE SEUS HABITATS ORIGINAIS



SIMPLIFICAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS PELA ELIMINAÇÃO OU INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES NAS BIOCENOSES
I. Simplificação por introdução de novas espécies
A introdução de novas espécies, animais ou vegetais, pode ser feita de forma deliberada ou involuntária.
O transporte deliberado tem sido feito tanto para satisfazer um prazer sentimental de pessoas que migram de um país para outro, como para aumentar a produtividade agrlcola-pastoril das regiões onde se estabeleceram.
O transporte involuntário ocorre graças à aceleração e aumento do volume do tráfico que caracterizam os tempos modernos. Assim, tornaram-se muito freqüentes estas interferências involuntárias como a introdução de sementes e esporas ou mesmo de animais pequenos, como roedores e insetos (ovos e larvas).
Convém salientar que muitas vezes o transporte deliberado é responsável por paralelas introduções involuntárias. Como exemplo citamos o transporte de vegetais que em cuja terra que os acompanha encontram-se animais e vegetais microscópicos que podem afetar a equilíbrio pedológico, ou seja, na fertilidade e estabilidade do solo, em função da presença destes novos microrganismos.
É importante lembrar que uma espécie introduzida num ecossistema estranho, pode comportar-se como um competidor mais robusto e mais bem armado que seus homólogos autóctones que assim são eliminados. Esta espécie introduzida também pode modificar a seu modo de vida, inclusive o seu regime alimentar. Esta modificação pode resultar de variações genéticas, devido ao numero reduzido de genitores introduzidos, o que provoca uma redistribuição do patrimônio hereditário.
Através de alguns clássicos exemplos, procuraremos demonstrar os efeitos da introduções de novas espécies, deliberadas ou involuntárias.
1.1 - O Eucalipto e a Caturrita (Myiopsitta monachus)
O eucalipto, originaria do continente australiano, foi introduzido no Brasil entre os anos de 1855 e 1870. Foi Edmundo Navarro de Andrade o grande divulgador do eucalipto entre nós. Ele reuniu aqui, a maior soma de espécies, não havendo igual em nenhum outro país.
Entre as vantagens oferecidas pelo cultivo desta essência exótica pode-se citar as qualidades de permitir regenerar as terras estragadas pelo desflorestamento e por práticas de cultivo perniciosas; oferecer a curto prazo, uma quantidade apreciável de madeira e poupar matas naturais que seriam sacrificadas para fornecer lenha e matéria prima para a indústria de papel e celulose. Para reforçar esta última qualidade, é bom salientar que grande parte do desflorestamento é feito para suprir a necessidade humana de papel. Para exemplificar, a tiragem dominical do”New York Times” consome o equivalente ao crescimento ocorrido durante um ano numa área de 70 ha de floresta tropical.
Entre as desvantagens de seu cultivo citamos a substituição das espécies autóctones por extensas plantações de eucalipto que afastam ou eliminam muitos componentes da fauna local. Condenam-se também algumas espécies de eucaliptos pelo seu alto consumo de água. Deve-se evitar o cultivo destas espécies com outras plantas que necessitam muita água como o cedro e a cana-de-açúcar.
Liberada para caça pelo extinto IBDF, a caturrita tem-se tornado uma praga em virtude da inclusão do eucalipto em nosso ecossistema. Esta ave da família dos psitacídeos normalmente habitava os capões de nossos campos e alimentava-se de sementes, frutos e outras partes de vegetais nativos.
O aumento da produção de milho a o cultivo de eucalipto nas regiões da campanha, encosta do sudeste e depressão central do Rio Grande do Sul têm propiciado locais seguros para estas aves nidificarem. Construindo seus ninhos em galhos altos do eucalipto, os ovos, filhotes e adultos ficam muito bem protegidos contra a ataque dos inimigos naturais.Entre as desvantagens de seu cultivo citamos a substituição das espécies autóctones por extensas plantações de eucalipto que afastam ou eliminam muitos componentes da fauna local. Condenam-se também algumas espécies de eucaliptos pelo seu alto consumo de água. Deve-se evitar o cultivo destas espécies com outras plantas que necessitam muita água como o cedro e a cana-de-açúcar.
1.2 - Eichhornia crassipes, um aguapé brasileiro conquista o mundo
O aguapé, planta originaria da América Tropical muito comum no Brasil foi introduzida em várias regiões quentes do mundo para ornamentar lagos públicos e jardins particulares. Infelizmente escapou desse meio limitado, ocupando a adaptando-se à natureza selvagem.
Sua primeira aparição, fora de seu habitat normal, deu-se no sul dos Estados Unidos em 1884. Atualmente é conhecida neste país com o nome de "Erva-dos-milhões-de-dólares" devido aos altos custos dispensados para a sua erradicação. É encontrada de norte a sul daquele pais, trazendo, inclusive, problemas para a navegação no Mississipi.
Fora da América do Sul e dos Estados Unidos, hoje é encontrada na Indonésia, nas Filipinas, nas Ilhas do Havaí, na Índia, no Ceilão e na África, sendo conhecida no mundo como o "Flagelo Verde".
A sua principal forma de reprodução é por estolhos, podendo uma planta produzir dezenas de novos indivíduos em poucas semanas. Calcula-se que dez plantas-mãe podem produzir 650 mil novas plantas em 8 meses.
Recentemente está se conseguindo uma erradicação relativa em alguns lugares dos mencionados, através do uso de herbicidas caros como o 2,4 diclorofenoxiacético.
E aqui no Brasil porque não é praga? Pelo fato de existirem no seu habitat natural espécies animais e vegetais que através de doenças ou predatismo limitam seu crescimento.
1.3 - Anopheles gambiae, um mosquito africano já expulso do país
A introdução de insetos estranhos em uma comunidade biótica pode trazer profundas repercussões no plano médico. O melhor exemplo, sem dúvida é o da malária no nordeste brasileiro.
No fim de 1929 um barco francês proveniente de Dakar (Senegal) chegava a Natal (RN) trazendo como passageiros clandestinos alguns mosquitos da espécie Anopheles gambiae um dos principais vetores da Malária na África que, além de não ocorrer no Brasil, goza do triste privilégio de estar intimamente adaptado ao homem, de preferência no interior das habitações humanas.
As espécies nativas de Anófeles (A. arqyrotarsis, A.albimanus e A. tarsísmaculatus) não acorrem normalmente dentro das habitações e por este motivo a Malária tem sido endêmica no nosso pais,
Com a chegada do Anopheles gambiae, a malária passou para um caráter epidêmico e já no fim de abril de 1930 esta doença transformou-se num problema sério: 10 dos 12 mil habitantes de Alecrim, um subúrbio operário de Natal, haviam sido afetados. Em menos de dez anos ocorreram centenas de milhares de casos e calcula-se que mais de 20 mil habitantes do nordeste morreram com a doença.
Com a ajuda da fundação Rockefeller o governo brasileiro iniciou uma campanha de bloqueio a progressão do mosquito e a sua total eliminação foi conseguida em novembro de 1940. Toda a América do Sul ficara protegida da ação patogênica do Anopheles gambiae.
1.4 - Austrália, ex-paraíso dos coelhos (Oryctolagus cunniculus)
Originários da Espanha e Ilhas do Mediterrâneo Ocidental, os coelhos foram levados da Inglaterra para a Austrália em 1859 em número de 24 indivíduos. Devido a falta de predadores e a abundância de alimentos, em pouco tempo estes conseguiram colonizar 2/3 da Austrália, tornando-se o maior flagelo desse continente, tanto no plano científico como no econômico.
Para se entender o potencial de pululação do coelho devemos lembrar que uma fêmea pode gerar, em média, oito ninhadas de seis filhotes por ano. Entra 1945 e 1949 foram exportados da Austrália 428 milhões de peles de coelhos.
Por outro lado, os mamíferos naturais da Austrália são, na sua maioria, marsupiais incapazes de competir com rival tão bem armado. Estes, principalmente os herbívoros, sofreram uma queda na sua população em função desta luta desigual.
Muito se fez para tentar erradicar o coelho da Austrália. Como exemplo pitoresco citamos a construção de barreiras sob forma de grades que procurava impedir a progressão do coelho para o norte do continente que no total somava 11.000 Km de extensão.
Da França levaram a "Raposa-da-Europa" predador natural do coelho no Velho Mundo. Infelizmente, na Austrália, este carnívoro mudou de dieta preferindo marsupiais, até então desconhecidos, muito mais dóceis. Em resumo, mais um desequilíbrio foi criado.
Entre muitas maneiras de contenção e eliminação de coelhos testadas, realizaram-se batidas organizadas de caçadores, uso de fumaça e gases tóxicos e, sobretudo, envenenamento com iscas misturadas com arsênico e estriquinina que, aliás, contribuíram para a destruição de muitos marsupiais atraídos por estas iscas.
Em 1950 surgiu a idéia de espalhar uma doença virótica que afetava os coelhos domésticos do Brasil: a mixomatose (Vírus sanarelli), devida a um vírus especifica, sem perigo para o homem, que aqui existe em estado endêmico nos coelhos do gênero Sylvilagus os quais, naturalmente, estão imunizados. Esta virose assumiu enormes proporções, calculando-se que matou 4/5 dos coelhos da Austrália. O restante, hoje, está sob controle.
Certas regiões outrora virtualmente desérticas, cobriram-se de vegetação e, nos anos de 1952 e 1953, o aumento da produção agrícola foi avaliado em 50 milhões de libras.
II. Simplificação por eliminação de espécies vegetais nativas
Aqui, nos deteremos mais nos aspectos nocivos resultantes do desflorestamento e conseqüente eliminação de espécies vegetais autóctones.
Para entendermos como este desflorestamento interfere no equilíbrio dos ecossistemas, devemos lembrar que esta atividade perniciosa elimina habitats e destrói nichos ecológicos de diversos predadores de insetos fitófagos (estes predadores são principalmente morcegos, pássaros, anfíbios, répteis e insetos entomófagos), cuja proliferação excessiva se volta contra a agricultura humana.
Numa floresta nativa, a variedade de espécies vegetais proporciona habitat para inúmeros tipos de insetos fitófagos. Entretanto a densidade numérica extremamente baixa de cada espécie vegetal e a sua esparsa disseminação, ou seja, a distância que separa um hospedeiro de outro, protege-os da ataque de pragas dificultando a devastação trazida por uma eventual proliferação de insetos. Além disso, a presença dos predadores já citados ajudam na manutenção deste equilíbrio.
A falta desta situação, produzida por um desflorestamento crescente para dar lugar a monoculturas de plantas cultivadas, tem produzido a proliferação anormal de cartas espécies de insetos nocivos, que devido ao seu ciclo vital curto, abundância de alimento disponível e ausência de predadores específicos, crescem espantosamente num curto lapso de tempo.
Convém salientar que, além de muitas outras desvantagens da monocultura, as plantas cultivadas vêm sendo selecionadas pelo homem através dos séculos, com o objetivo de aumentar sua palatabilidade e produtividade. O preço pago pela hibridação e seleção dessas plantas tem provocado um enfraquecimento de suas defesas químicas o mecânicas contra o ataque de insetos e organismos patogênicos. As plantas nativas são muito manos vulneráveis às doenças a aos insetos porque dispõem de defesas químicas contra esses inimigos (o quinino e a cortisona, por exemplo). A energia e os recursos gastos pelas plantas silvestres na produção desses agentes químicos de defesa, são canalizados, no caso das plantas cultivadas, para as reservas alimentares. Esta substituição constitui um arranjo ideal do ponto de vista dos insetos. Eles têm à sua disposição numa área inteiramente livre de inimigos, uma abundante e uniforme fonte de alimentos, de acesso fácil e de ótima palatabilidade.
E como responde o homem?

Com eficientes e caros pesticidas sintéticos, principalmente com os organoclorados, como o DDT, que são ótimos inseticidas e excelentes homicidas.
Síntese da palestra proferida por Germano Schüür no I Encontro de Coordenadores do Projeto Natureza - SECRS/5ªCRE.


Forasteiros tiram lugar dos originais


A introdução de animais estranhos ao ecossistema também pode provocar mudanças profundas no habitat, colocando as espécies em risco ou levando à sua extinção.

Exemplo disso foi a introdução de coelhos na Austrália, que provocou a diminuição das populações de marsupiais nativos da região, como os cangurus, por causa da alteração de seu hábitat. Os marsupiais têm um organismo muito voltado para o seu ambiente e não resistem a pequenas mudanças ambientais.

Outro exemplo clássico é a extinção do pássaro dodo, das Ilhas Maurício, Reunião e Rodrigues, do Oceano Índico. Havia três espécies, cada uma endêmica de uma ilha, e essas aves tinham poucos predadores devido ao seu isolamento geográfico. Sem necessidade de voar, por causa do alimento abundante, converteram-se em aves terrestres, incapazes de se defender. Trazidos nos barcos com a população humana que se instalou na ilha, os ratos, os cães e as cabras, acabaram com os dodos. O último dodo, o da ilha Rodrigues, sucumbiu no princípio do Século 19; a primeira espécie a desaparecer foi o das ilhas Maurício em 1680. A chegada de indivíduos a um novo habitat não implica necessariamente a sua naturalização. Na realidade, a probabilidade de sucesso é pequena: calcula-se que somente 10% das espécies introduzidas conseguem êxito e, destas, somente 20% causam problemas nas comunidades naturais.

2 comentários:

  1. Sei, não.
    Vejo-me pensando que o homem ainda mordisca o lado ruim do fruto da árvore do Bem e do Mal.
    Toda vez que o homem julga ter mais sabedoria que a Natureza que o criou, alguma grande besteira faz. É o caso quando introduz espécies animais ou vegetais em um habitat que não lhe é natural.

    Beijo de Paz.

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  2. Parabéns pela campanha ferrenha em defesa da natureza. Somente assim podemos, quem sabe, reverter um pouco de tantos males causados pelo homem ao longo dos seculos. Como você, tenho escrito muito a respeito do assunto. Precisamos unir forças e cobrar mais do governo campanhas educativas e punições mais severas para os destruidores da natureza. Educar nossas crianças, já que parece que os adultos é de dificil solução.
    ...Nem por isso vamos desistir!!

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