29 maio 2008

A COSTA RICA DÁ O SEU MARARAVILHOSO EXEMPLO RESTAURANDO SUAS FLORESTAS NATURAIS




Nona Conferência das Partes (COP-9) da Convenção sobre Diversidade Biológica - Bonn - Alemanha - (Ninth meeting of the Conference of the Parties to the Convention on Biological Diversity - 28-30 May 2008, Bonn, Germany)

Na Costa Rica, já há uma tradição de procurar por drogas milagrosas na floresta. O Instituto Nacional de Biodiversidade (INBio) foi fundado na capital, San José, em 1989. Nos anos 90, a empresa farmacêutica Merck investiu US$ 4 milhões no instituto de pesquisa, que já adquiriu reputação mundial. Os executivos da Merck prometeram doar 10% dos lucros de descobertas potenciais para o país, com parte do lucro destinado à conservação.

As borboletas, plantas e fungos da Costa Rica detêm a chave para novas drogas para combate da malária e câncer, ou ao menos fornecer ingredientes para novos cremes para pele e xampus anticaspa? Os renomados pesquisadores do INBio continuam à procura de respostas para estas perguntas, buscando constantemente substâncias naturais úteis.

Em uma manhã recente, por exemplo, Jorge Blanco, um especialista em fungos, estava analisando cuidadosamente as folhas da Monimiaceae siparuna, uma planta que lembra a família do loureiro. Usando um escalpelo, ele cortou as preciosas folhas verdes e colocou os pedaços em pratos de cultura. Logo brotariam fungos que antes cresciam apenas dentro das folhas. Para obter a planta, Diego Vargas, um biólogo que trabalha no INBio, passou duas horas do dia anterior em um utilitário esportivo, dirigindo por estradas sinuosas no Parque Nacional Braulio Carrillo, ao longo das encostas do vulcão Barva.

Vargas, vestindo um boné, camiseta branca e luvas azuis de borracha, fotografa as plantas na mat a virgem, então usou tesouras de jardim para retirar as infrutescências de várias plantas e as coloca cuidadosamente em sacos. Espiando nos pequenos arbustos, ele encontrou a Monimiaceae siparuna, uma planta com minúsculas flores amareladas. Ele girou suas tesouras de jardim como um caubói com seus revólveres, então cortou habilmente as infrutescências: um pequeno corte para Vargas, mas um corte gigante para a humanidade?

"Muitos dos fungos que vivem nas folhas desta planta nunca foram estudados, porque são muito difíceis de isolar", disse Vargas. "Eles podem muito bem produzir muitas substâncias interessantes que ainda desconhecemos.

"Desde que o INBio foi fundado no final dos anos 80, seus cientistas já examinaram milhares de insetos em sua busca por substâncias naturais úteis. Atualmente, equipamento de alta tecnologia no laboratório especial do instituto, em Herédia, um subúrbio de San José, é usado principalmente para analisar extratos de plantas, micróbios e fungos.

O grande bio-boom ainda não se materializou, levando a Merck e alguns outros grandes investidores a retirarem seu financiamento. "As companhias farmacêuticas não querem mais pagar pelo longo processo necessário para encontrar substâncias promissoras na natureza", disse Giselle Tamayo, a coordenadora técnica da divisão de prospecção da biodiversidade do INBio.

Todavia, Tamayo insistiu que o centro de pesquisa, que agora trabalha basicamente com universidades, ainda é "um modelo de sucesso". O instituto, disse Tamayo, ajuda a demonstrar como os países em desenvolvimento podem compartilhar as bênçãos da biotecnologia ao mesmo tempo que protegem sua própria biodiversidade. Uma parte das taxas de licenciamento que o INBio recebe é destinada à proteção das florestas costarriquenhas.

A Costa Rica já é considerada um país modelo dentro do movimento internacional de conservação. No próspero setor de ecoturismo do país, cerca de 1,5 milhão de turistas gastam perto de US$ 1,5 bilhão por ano para visitar as maravilhas naturais das florestas tropicais e florestas de montanha costarriquenhas. E proteger estas florestas foi elevado ao patamar de doutrina nacional na Costa Rica. Nos anos 70 e 80, madeireiros derrubaram quase 80% da floresta tropical costarriquenha. Hoje, mais da metade do país está novamente coberto por floresta.

Na parte sul do país, a densamente florestada Península de Osa se projeta no Pacífico. No interior da mata, nas montanhas acima da minúscula aldeia de Golfito, Jorge Marin Picado vigia 46 hectares de floresta primitiva. Um bando de araras vermelhas sobrevoa o local, onde o cheiro de vegetação em decomposição preenche o ar. Trepadeiras serpenteiam tronco acima de árvores gigantes. Picado, carregando um facão comum em seu cinto, é o administrador da "finca", ou fazenda, empoleirada ao longo da borda da cadeia costeira. Segundo um acordo que o proprietário da fazenda assinou com a agência florestal costarriquenha, o governo lhe paga US$ 350 por hectare por ano para que mantenha a floresta intacta e impeça qualquer um de roubar plantas ou cortar árvores ilegalmente.

Recompensando os agricultores por manterem as árvores intocadas
O governo chama o sistema de programa de "Serviços Ambientais" e os conservacionistas o consideram exemplar. Segundo o programa, o governo recompensa os proprietários por plantarem novas árvores ou deixarem a floresta existente intocada. "Nós queremos ampliar a área florestal e oferecer aos agricultores uma alternativa", disse Katia Alegria, da agência florestal. Como resultado, as terras em que até agora o gado pastava estão se tornando novamente florestas. Em vez de bananeiras e palmeiras, espécies locais como teca e guaritá estão crescendo nas novas e antigas florestas preservadas.

O programa é financiado com impostos sobre a venda de gasolina e fundos do Banco Mundial e do Fundo Global para o Meio Ambiente (Global Environment Facility, GEF), para o qual contribuem os países membros da CDB. Mas a Costa Rica também espera no futuro obter lucro com o dióxido de carbono capturado pelas árvores.

De fato, a capacidade de capturar enormes quantidades de CO2 da atmosfera e armazená-las poderia significar a salvação das florestas nesta era em que o homem está desesperadamente em busca de formas de deter o aquecimento global. Pântanos também podem capturar quantidades substanciais de CO2. Recuperá-los e preservá-los "oferece uma forma custo-eficaz de coibir a mudança climática e proteger a diversidade", disse Steiner, o diretor-executivo do Pnuma.


Tradução: George El Khouri Andolfato


GLOSSÁRIO:
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente -foi criado em 1972, como resultado da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano

INBio - Instituto Nacional de Biodiversidade (INBio) foi fundado na capital, San José, em 1989.

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