30 maio 2008

EUA E O MERCADO DE CARBONO MUNDIAL


EUA podem fazer mercado de carbono valer 2 trilhões de euros


A possibilidade cada vez mais iminente de os Estados Unidos adotarem metas para as emissões de gases do efeito estufa tem aguçado as expectativas dos investidores. Analistas da Point Carbon afirmam que o mercado global de carbono pode valer 2 trilhões de euros em 2020 se os EUA criarem um esquema próprio de comércio de emissões. O estudo, apresentado na última semana, mostra que o país pode representar 67% (ou 1,25 trilhão de euros) do mercado em 2020, comercializando um volume total de 38 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). O mercado da União Européia (único existente até agora) ocuparia segundo lugar, com 23% das permissões de emissões e um comércio de 9 bilhões de toneladas de CO2e. Os cálculos estipulam o preço da tonelada de carbono a 50 euros em 2020 – o dobro do valor atual praticado na Europa. Também supõem que um esquema "cap and trade" (de limite e comércio de emissões) será introduzido nos EUA até 2020 e que a União Européia terá uma meta de 25% para redução de emissões, incluindo as da aviação. Ainda contam que esquemas de carbono se tornarão operacionais na Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Japão, Coréia, México e Turquia.

Em discussão

Um dos pressupostos para o crescimento do mercado de carbono previsto pela Point Carbon está prestes a se tornar realidade. Na próxima semana, o Senado norte-americano debate a criação de um sistema “cap and trade” para os EUA. Uma nova versão para o projeto de lei conhecido como Ato de Segurança para o Clima de Lieberman-Warner define o corte de emissões em 66% até 2050.

A administração Bush sempre foi contra programas obrigatórios de corte de emissões – sendo o único grande país industrializado a ficar de fora do Protocolo de Quioto. Mas a história está prestes a mudar, uma vez que os três candidatos à eleição presidencial (todos senadores) são favoráveis a esquemas de redução de emissões, defendendo que um sistema “cap and trade” deve entrar em ação em 2009. Avaliação Para Camilo Terranova, diretor da New Carbon Finance, que abre filial no Brasil no próximo mês, os EUA são sem dúvida a chave para o crescimento do mercado de carbono, tanto em termos de permissões quanto de créditos oriundos de projetos. Ele explica que a nova versão da proposta Lieberman-Warner (apresentada pela senadora Barbara Boxer) tem várias implicações, inclusive de controle sobre os preços do carbono até 2020, com um teto de 25 dólares. Isso, segundo Terranova, já alteraria as previsões que consideram o crédito a 50 dólares em 2020. “Os números de crescimento deste mercado são um tanto quanto incertos. O que se tem cada vez mais certeza é de que ele crescerá”, avalia. O diretor da EcoSecurities no Brasil, Maurício de Moura Costa, concorda com essa última observação. “Os fatores apresentados multiplicariam o tamanho do mercado comparativamente ao existente sob o Protocolo de Quioto. No entanto, as variáveis existentes são inúmeras, de modo que qualquer valor que se mencione hoje, para o mercado de 2020, contém um elevado grau de incerteza”. Já o gerente de projetos da Mundus Carbo, Henrique de Almeida Pereira, acredita que o crescimento do mercado de carbono tem se dado de forma acelerada, o que traz conseqüências para qualquer novo mercado em expansão. “Todo novo mercado sofre do mesmo mal. A falta de informação e a deficiência institucional são problemas que precisam ser solucionados para evitar distorções e incertezas”, afirma.

A boa vontade política fez com que o mercado de carbono amadurecesse mais rapidamente do que outros novos mercados, avalia o gerente. “Contudo, ainda estamos longe de atingir o estágio de maturidade ideal”, ressalta. A brevidade do primeiro período de compromisso do Protocolo de Quioto é apontada por ele como uma das dificuldades para a consolidação deste novo mercado. “Deve-se entender que a constituição de um mercado como este, com um grande componente político, não é simples e a sua análise deve ultrapassar a fronteira (simplista) de valores transacionados e número de projetos”, explica. Pereira considera, por exemplo, que o MDL foi bastante limitado em sua concepção. “Por um lado, isto simplificou a gênese do mercado - os projetos de carbono buscaram até hoje o óbvio e facilmente executável. Por outro lado, atividades importantes foram excluídas ou se tornaram muito complexas para serem executadas, como os projetos de eficiência energética”.

FUTURO

Moura da Costa esclarece, no entanto, que as projeções de crescimento apresentadas pela Point Carbon referem-se ao mercado de carbono de um modo geral, que vai além do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. “O MDL é o único mecanismo de comércio de emissões que envolve países em desenvolvimento, como o Brasil”. Sobre o mercado norte-americano, o diretor da EcoSecurities destaca que existem diversas iniciativas internas em curso nos EUA para a implementação de um sistema federal de redução de emissões. “As principais delas estabelecem sistemas “cap and trade”, mas fundamentalmente voltados para o mercado interno”. Ele entende que as reduções de emissões ocorridas fora dos EUA seriam admitidas de modo relativamente limitado: “Em termos de volume e natureza, os créditos do MDL, por exemplo, poderiam ser excluídos”, explica. “No entanto, caso os créditos de MDL venham a ser admitidos, ainda que com limites quantitativos (por exemplo, 10% das necessidades internas), ainda assim representaria um grande acréscimo na demanda por créditos, tendo em vista a dimensão do mercado americano”, conclui.

Necessidade

No meio de tantas incertezas em relação aos números do mercado, uma afirmação segura é de que o aquecimento da Terra se mantém com um aumento médio de 2ºC. “Para conter as mudanças climáticas, teremos que investir muitos bilhões de dólares a mais do que sem tem feito ate agora em energias renováveis, eficiência energética e em fontes de captura e armazenamento de CO2”, afirma Terranova. Um relatório publicado pela New Energy Finance e pelas Nações Unidas mostra que os investimentos totais em energia renovável no mundo em 2007 foi de 148 bilhões de dólares, enquanto o mercado de carbono representou cerca de 64 bilhões de dólares. Terranova acredita que os EUA terão um sistema “cap and trade” de uma forma ou outra e deverão aceitar certos níveis de uso de créditos internacionais incluindo oriundos de projetos relacionados às florestas. Ele ressalta apenas que o esquema deverá ser aprovado no ano que vem, pois os senadores democratas não irão permitir que o governo Bush ganhe os créditos pela aprovação do projeto e beneficie o candidato republicano nas eleições que estão por vir. Enquanto uma proposta não se torna lei, vários cenários podem ser criados, tanto para os EUA quanto para o mundo. Terranova sugere um em que, após os EUA derem metas a si mesmos, a China aceita certo tipo de metas (setoriais, por exemplo) e, com isso, faça com que todos os principais emissores dentro dos chamados países em desenvolvimento aceitem metas também. “A real contribuição norte-americana para o mercado e para o clima irá se materializar quando o país assumir seu papel de maior emissor e buscar se integrar na solução apresentada por Quioto”, defende Pereira. “Pessoalmente acredito que alguns obstáculos precisam ser vencidos, mas sou otimista e acredito que o que vivenciamos hoje é apenas o início de um mercado ambiental muito maior. Espero apenas que as reformas necessárias pra o fortalecimento do mercado comecem a tomar forma em 2009”, finaliza.
Fonte: Carbono Brasil - http://www.remade.com.br/pt/noticia.php?num=4454

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